sábado, 17 de novembro de 2012

Era Uma Vez Eu, Verônica



             Para quem gosta, como eu, de prestigiar a arte nacional, recomendo o filme Era uma vez eu, Verônica. O filme revela as reflexões da protagonista, que as registra em um gravador, que enfrenta seu início na profissão médica, atendendo em um hospital público, enquanto lida com problemas pessoais como: pai doente, com os dias contados; mudança de residência, porque prédio vai sofrer reforma geral; dificuldade em afeiçoar-se ao namorado, pois somente o sexo lhe dá satisfação. O papel é interpretado por Hermila Guedes e o namorado por João Miguel, que não encontra aqui oportunidade  para maiores arroubos interpretativos, enquanto W.J.Solha, que interpreta o pai José Dias, está perfeito no papel. Agora quem dá um banho de interpretação, quem arrasa mesmo eu só posso indicar a personagem, porque não conheço a atriz, mas vá ver e observe as expressões da paciente que se queixa à Dra Verônica de dormir muito e não encontrar qualquer alegria na vida, apesar de ter boa família, de gostar do que faz no trabalho e do que estuda na faculdade.
            Através do filme você depara com a realidade de um Recife com mais problemas do que beleza. As imagens (bela fotografia de Mauro Pinheiro Jr) feitas em um Hospital Público do Recife, Hospital das Clinicas, e da lanchonete de orientais em que Verônica compra comida são de um realismo praticamente naturalista, com atores amadores, com certeza, aumentando a carga de denúncia da história, mas sem cair no panfletarismo. Minha companheira reclamou das longas sequências com a câmera fixa e imóvel, eu, no entanto, senti que não podia ser diferente, vendo nessa técnica uma forma de realçar a problemática da incomunicação e isolamento das pessoas na sociedade urbana, gerando em nós, espectadores, uma angústia com o problema. Em mim brotou um desejo de solidarizar-me com elas e de fazer algo para minorar o problema, pelo menos nos lugares em que eu estiver.
            Lembrei-me agora de uns versos de um escritor barroco espanhol, San Juan de La Cruz, que dizia mais ou menos assim: “As pessoas na cidade hoje em dia sentam-se juntas para se desconhecerem e falam com palavras vestidas de silêncio”.
Prêmios: O filme competiu no 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e conquistou prêmios de: “melhor filme – júri oficial”; “melhor filme – júri popular”, “melhor ator coadjuvante” para W.J. Solha, “melhor roteiro” para Marcelo Gomes, “melhor fotografia” para Mauro Pinheiro Jr, “melhor trilha sonora” para Karina Buhr e Tomaz Alves Souza, e o “prêmio Vagalume de melhor longa-metragem”, avaliado por um júri constituído por deficientes visuais.

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