terça-feira, 26 de agosto de 2014

Conto erótico

BILITA

Eu num sô nada... nada só... titiquinha de nada rodando, sonhando num mundo sozinha. Cachorrinha perdida no mato sem caçadô. Mãe nunca tive. Pai num tive. Num sei de nada de mim quando piquinininha. Cum cinco ano tava na casa dos ôtro. Levando merenda pros home na roça, dibuiano mio no paió, cuidano das galinha...tudo em troca do de cumê e de rôpa usada. Tava uma hora num sítio, outra hora em otro. Assim inté os doze ano.
Veio o primero home. Eu num sabia de nada. Foi aí que conheci o fogo que tinha dentro de mim. Era a fazenda de um home sério, desses de igreja, bravo que nem padre. A muié era iguar. Um vaquero dele me oiô e fiquei presa. Deu uma tremedeira pro dentro. Ele ficou oiando e andando pro quintal e eu... fui também... Senti que ele me mandô com os óio, com o jeito isquisito de me oiá. Fumo inté o pé de maracujá, ele tava cum medão... eu tava doida... doida varrida... arguma coisa mexia dentro de mim... aí eu ia sabendo e de repente já sabia que eu ia me discubri, que eu ia sabê ôtras coisas. Ele apanhou uma frô de maracujá... bem aberta... quis falá, mas só abriu a boca... Pôs a frô nos meus cabelo e me deitou no chão. Alevantou minha saia e abriu minhas pernas... passou a mão em mim e eu vi o verde rodá em riba... nuns pedaço eu via o azul do céu. Aí ele abriu a barguia e eu vi o passarinho dele. Tava duro... veio pra riba de mim... parecia que o mundo tinha parado, que o tempo num andava mais... inté eu num respirava mais. Os passo do patrão botou pedra nas vontade dele. Ficou parado, iscuitando com os óios arregalado... o passarinho dele foi incoiendo e ele fugiu. Ninguém chegou e eu fiquei ali deitada que nem calango no sol, gostando daquela quentura gostosa... eu num entendi tudo... mas fiquei sabendo que aquilo era no secreto, nos esconsos de tudo, no iscundido dos outros.
Passô  uns dia só e eu fiquei sozinha com otro home. Era um véio que ninguém ligava pra ele. Eu queria o que eu não sabia. Mas ele devia saber como o otro. Oiei pra ele e oiei pro paió. Fui andando e oiando... e ele foi indo... foi indo... eu já fui fazendo o que eu sabia, deitei nas paia de mio, levantei a saia e abri as perna. O véio ficou respirando forte, fungando bravo que nem cavalo e foi tirando meu vistido todinho... me beijou, me mordeu e eu sinti uma tontêra boa que nem vi o que ele fez. Sinti uma dô que me rasgava e parecia que ele todo tava entrando dentro de mim. E ele ficava mexendo, mexendo e eu vi o mundo se acabá, a terra toda morrê e me deu uma vontade de gritá e eu gritei. Ele pôs a boca na minha e me calou. Arguém iscuitou, pruque logo foi a maió confusão. O patrão me tocô, a muié dele me rogô praga e eu saí pra puêra da estrada. Num chorei. Sofri poeira e calor. E tudo parece que foi pro mode eu intendê. Todo mundo achava que era errado, só eu que via que num havia errado nenhum.
Tava pensando ansim, quando veio um carro-de-boi gemendo. Eu nem oiei e nem pidi, mas o home falô pra mim ir junto e repartiu comigo sua merenda. Vi que o mundo também tinha suas bondade, que a vida mesma era ora boa ora ruim, de misturado e remexido. Apruveitei a hora boa. Ansim faço inté hoje. O mais é o que acontece. Fui de arraial em vila, de um lugar a ôtro. Um dia, fiquei doente e me levaram prum hospitá. Um dotô bonito me deu remédio e me cuidô. Quando fiquei boa, me levô pra casa dele,me deu ropa boa, pra mode eu trabaiá. Uns dia dispois, eu tava deitada e ele entrô no meu quarto. Fiquei quieta, fingindo drumi. Ele abriu minha camisa de botão e foi falando muita coisa que eu nem num ouvia direito. Passou a mão tão macia de um jeito tão macio, beijou meu peito e eu nem mexi. Fiquei quietinha por fora, nem tremi... tremi só por de dentro. Por dentro era um monte de arripio e de tremura. Quando ele deitou em riba de mim eu ria e chorava, mas só lá dentro, com tudo em brasa. Só quando ele falou "abre a boca, me dá sua língua, me dá sua língua" foi que eu mixi, obedeci. Ele intão disse "sabia que você tava acordada". Aí, todo dia nóis fazia a mesma coisa. De dia eu cuidava da casa dele e quando a noite chegava eu drumia e ele ia na minha cama e a gente apruveitava muito tempo, fazendo tudo muito gostoso.
Um dia, um moço me pidiu em casamento. Antenô, moço sacudido, trabaiadô da roça. O doutô quis que eu decidisse, falô que num era meu pai, mas punia por mim. Também num pudia impidi se eu quisesse. Eu quis, e fumo morá afastado de lá. Nem duas semanas tinha passado e o doutô foi me visitá, pra sabê cumo é que tava passando, se eu precisava de arguma coisa, que isso e aquilo, mas eu logo vi o que tava querendo e ele num resistiu e acabô me pidindo. Tadinho. Caído no chão, de jueio, é, divera, ajueiado como se tivesse rezando e chorando que nem minino. Cumé que pode? Cumé que eu pudia dizê não? Ele me abraçava as perna, me beijava os juêio. Levei ele pro quarto e pela primeira vez ele ficou quieto e eu fiz tudo o que queria. Ele ria... disse que num divia ter deixado eu me casá. Que eu valia ôro vivo. Só me alembrei que eu era casada, quando meu marido bateu na porta. Saí correndo, pensei que o dotô fugia pelo fundo. Tentei segurá o Antenô, mas ele parece que viu tudo, que sabia tudo. Entrô que nem louco e foi quebrano tudo inté chegá no quarto. Matô... matô e fugiu, foi pra jagunçagem. Hoje é o famoso Calango. Bicho terríve.
Eu saí dali com o vestido que tinha posto na hora da aflição. Pequei nada não. Fui embora suzinha e Deus. Muito tempo despois conheci um home danado de bonito. Paulo, até o nome dele me enchia de alegria. Paulo, Paulo, Paulo! Trabalhadô da estrada de ferro, me namorô, me gostô e disse que queria casá. Falei que na igreja já num podia mais. Tava casada e com marido fugido, mas num tinha casado nu tar de civil. Ele quis e casô cumigo só no cartório. E pra mim era a mesma coisa. Eu tinha casa de novo, tinha marido e era uma muié casada como as ôtra. Só que o Paulo num me intendeu. Eu agora sabia que tudo tinha acontecido para eu saber que eu ia ser tudo o que agora eu era. Eu era mulher, muié. Queria tudo, toda hora. De manhã era o melhor. Acordava Paulo com carinho e ele reclamava que tinha de trabaiá, que ficava com as perna bamba. Quando ele vinha de tarde eu nem deixava ele tomá banho, queria mesmo era aquele  chêro, chêro de home que me ardia e me deixava que nem lôca. Depois eu dava um banho nele e aí ele cheroso, com aquele chero de limpo eu num güentava e queria mais, porque também assim era gostoso, era um ôtro gosto, um ôtro jeito. Ele pedia "deixa eu jantá". Eu falava "adispois". E  despois da janta quando eu cumeçava ôtra vez, ele me arreliava e se  empombava:"Que é isso, muié? Cê num sussega, a estrada é de ferro, mas eu num sô!" Tinha vez que ele num reclamava, mas ficava muito parado e num era a mesma coisa como no tempo de namôro. Nesse tempo, quando a gente se via, ele também era um fogo só e num esbarrava de me fazê festa, de me muquiricar. Agora, ficava que nem coitado.
           Um dia, acordei e ele tinha sumido. Me abandonô. Foi aí que vim pará na casa de muié-dama. 
Geraldo Chacon 
(Do meu livro A VIDA QUE EU VI, publicado em e-book, pela Amazon.)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MORADORES DE RUA ou Homeless

A MORADORA DE RUA


Lendo uma matéria sobre moradores de rua, perdi o rumo em uma das linhas e viajei para o passado. Uma lembrança forte tomou conta de mim. 


Não vou conseguir lembrar mês e dia, mas a hora, veio-me à mente com precisão. Eram 6 da manhã. Frio pra caramba. Eu vi uma senhora que se arrumava, parecia ter acordado naquele instante. Foi numa calçada de uma rua próxima ao Parque Antártica. No instante em que a olhei, seu olhar também me distinguiu na massa de veículos que passavam e me sorriu. Ainda tive tempo de corresponder ao sorriso que era meigo, puro, angelical. Pela Dutra afora, fui me lembrando daquela gentileza, simpatia!
Uns dez dias depois, domingo pela manhã, um pouco mais tarde, creio que 7:30, seguia rumo a Dutra. Ao sair da Rebouças, pegando à esquerda com o propósito de seguir pela av. Pacaembu, lembrei-me daquela senhorinha e não resisti, peguei a Dr. Arnaldo, dali pequei a Sumaré e fui para lá com a intenção de parar e conversar com ela. Estaria lá? Me perguntava.
Estava, no mesmo lugar. Parei frente a um bar e pedi que preparassem um pão com manteiga e um pingado para viagem. O senhor do bar perguntou se era para muito longe.
– Não senhor, é para aquela senhora que dorme nessa mesma calçada.
– Ela não toma café e eu não tenho pão.
E preparava-se para jogar o café de volta na cafeteira, quando lhe pedi que fizesse o pingado que eu mesmo o tomaria. Então ele me sugeriu levar um quibe para ela. De quibe ela gostava. Ele me disse.
Foi o que fiz. Quando dela me aproximei e ofereci o salgado, dentro de um saquinho, ela agradeceu timidamente e mais recatada ainda se justificou:
– Vou guardar para comer depois. Estou de jejum. (Lembrei-me de minha avó, Dindinha, que jejuava toda primeira sexta-feira do mês. Dia que, invariavelmente, durante anos, comungava.) Disse-lhe então que não era sexta-feira, mas domingo, e ela explicou-me:
– Jejuar sempre faz bem pra gente!
– Você é religiosa? De que religião?
– Sou evangélica.
Ofereci café, só para ver se confirmava o que dissera o homem do bar. Ela gentilmente recusou e agradeceu. Desejei-lhe boa sorte e segui meu rumo com mil questionamentos a respeito. Minha querida ex-aluna Nancy perguntou se eu concluiria esse texto e a resposta que lhe dei ficará como fechamento dessa história:

Nancy, concordo com você sobre o tempo na internet. Dedique-se mais aos estudos e menos ao mundo virtual. Quanto à moradora de rua, estou com saudades dela. Reli a crônica porque você tocou no assunto e quer saber como vou concluir. O mais importante foi o acontecimento e que as pessoas possam tirar suas próprias conclusões. Por exemplo, pessoas boas, não deixam de ser assim porque a vida lhes retira os bens materiais. Assim como pessoas ruins, geralmente, não se tornam boas quando sofrem perdas radicais. Quando puder, veja o filme "Ensaio sobre a cegueira".

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Carta do chefe Seatle "A terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra".

CARTA DO CHEFE SEATLE AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

Este documento é um dos mais belos já escritos sobre  o uso do solo - é uma carta escrita em 1854, pelo Chefe Seatle ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, quando este propôs comprar as terras de sua tribo.




“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha .
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados  na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem - todos pertencem à mesma  família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe, diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar à suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo, o murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças, se lhe vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreende.
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o possuem, mas sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador.
Os brancos também passarão, talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa, impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.”
  


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

CONCURSO LITERÁRIO DE CABO FRIO

Participei e consegui um quinto lugar, o que me deixou feliz já que algumas centenas de pessoas concorreram.