terça-feira, 30 de agosto de 2016

AUTOPSICOBIOGRAFIA

AUTOPSICOBIOGRAFIA

Minha poesia é simples como a chuva,
sem regra predeterminada,
ora fina, leve, delicada
ora grossa, bruta, ignara.
Pode até ser regular, distribuída,
mas à força dos ventos ou da ventura
de natureza tão misteriosa.

Minha palavra é simples, correntia
como a vida pobre do operário
que sempre fui.
Bocage segue ao lado de Agapito:
avô distante de vaga memória.
No mar revolto em perdido lenho,
levo comigo Camões e José Chacon:
meu pai, pedreiro inculto.
Além dessa vida difícil e dura
que mais tenho, que possa dizer?

Amor à vida e um pouco de leitura.

* O título foi inspirado no AUTOPSICOGRAFIA, famoso poema de Fernando Pessoa, que no primeiro verso diz que "O poeta é um fingidor".



quarta-feira, 24 de agosto de 2016

THIAGO DE MELLO

Estou com 70 anos, farei 71 daqui a alguns dias. Sinto-me já fazendo horas extras, serão. Claro que, em função disto, vez e outra penso no fim e hoje encontrei um poema que copiei quando ainda não tinha tal preocupação.



POEMA PERTO DO FIM

 

 

A morte é indolor.

O que dói nela é o nada

que a vida faz do amor.

Sopro a flauta encantada

e não dá nenhum som.

Levo uma pena leve

de não ter sido bom.

E no coração, neve.


Thiago de Mello




Amadeu Thiago de Mello (Barreirinha, 30 de março de 1926) é um poeta e tradutor que
nasceu no Estado do Amazonas. Poeta mais influente, respeitado, verdadeiro um ícone da literatura regional. Suas obras já foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Foi preso pela ditadura (1964-1985), tendo se exilado no Chile, onde conheceu o poeta Pablo Neruda, tornando-se amigos e colaboradores mútuos. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu alguns ensaios sobre o amigo.
Ainda nesse período de exílio, morou na ArgentinaChilePortugalFrançaAlemanha. Quando terminou o regime militar, voltou à sua cidade natal,Barreirinha, onde vive até hoje.
Em homenagem aos seus 80 anos, em 2006, foi lançado o CD comemorativo A Criação do Mundo, contendo poemas que ele produziu nos últimos 55 anos, declamados por ele próprio e musicados por Gaudêncio, seu irmão .


terça-feira, 23 de agosto de 2016

E CLARICE LISPECTOR, CONHECES?


Clarice Lispector


 BIOGRAFIA SUCINTA

                Outra escritora maravilhosa, que fez parte da terceira geração Modernista, Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1925, mas veio para o Brasil com apenas dois meses de idade. A família, depois de uma breve estada em Alagoas, mudou-se para Pernambuco. Foi em Recife que Clarice passou a sua infância. Desde tenra idade demonstrou interesse pela leitura e pela produção de textos.
                Em 1937, já morando no Rio de Janeiro, Clarice termina o colégio e inicia seus estudos de Direito da Faculdade Nacional. Inicia então sua carreira como redatora, inicialmente na Agência Nacional e depois, no jornal A Noite.
                Em 1944, aos dezenove anos, Clarice estréia na ficção com seu primeiro romance: Perto do coração selvagem. O livro, que tinha sido recusado antes por algumas editoras, chamou a atenção de parte da crítica, pois fugia aos padrões literários que eram então praticados no Brasil. Por estar casada com diplomata, passou quinze anos fora do Brasil, acompanhando o marido, de quem se separou em 1959, quando voltou ao Brasil, fixando residência no Rio de Janeiro, onde veio a falecer de câncer em 1977.

 BIBLIOGRAFIA

Contos: Laços de família (1960), A Legião estrangeira (1964), Felicidade clandestina (1971), A Imitação da rosa (1973), A Via-Crucis do corpo (1974), Onde estiveste de noite (1974) e A Bela e a fera (1979).
Romances: Perto do coração selvagem (1944), O Lustre (1946), A Cidade sitiada (1949), A Maçã no escuro 1956), A paixão segundo G. G. (1961), Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969), A Hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978).


SÍNTESE DO ENREDO de A HORA DA ESTRELA


                Assim como Dom Casmurro e São Bernardo, também essa obra apresenta dois relatos. Um deles é o da nordestina Macabéa, moça magrela e pobre absoluta, pois não lhe falta apenas dinheiro, falta tudo, inteligência, esperteza, auto estima. Ao perder os pais muito cedo, ela passa a ser criada por uma tia má, que a castigava física e mentalmente. Depois, vieram para o Rio de Janeiro e a tia conseguiu um emprego para ela. A tia morrera e ela passara a morar com outras moças, dividindo um quarto. Um dia, Macabéa conhece Olímpico, também nordestino, e começam a namorar. Ele é o seu oposto, bem falante, metido, convencido e cheio de esperanças com relação ao futuro. Vê-se logo que não é namoro que dê certo. Olímpico deixa-a logo que conhece Glória, sua colega de serviço. Glória, talvez por remorso de ter roubado seu namorado, aconselha Macabéa a procurar uma cartomante, madama Carlota, que prevê um futuro grandioso e feliz para a pobre nordestina, que, ao contrário, é atropelada por um Mercedes, morrendo no local.
            O outro relato, paralelo e simultâneo (funciona com o anterior como fios de um tapete que compõem dois desenhos que se inter-relacionam) vai gradativamente mostrando o trabalho do escritor Rodrigo S. M., que dá a aparência de não ser do tipo de escritor que trabalha com plano ou projeto preestabelecido, mas que vai deixando as personagens brotarem e crescerem como se parte disso fosse ação delas próprias, chegando a ponto de influenciar o pseudo-autor, mexendo com suas emoções, com seus sentimentos. As informações sobre a vida pregressa e futura das personagens vêm aparentemente como revelações, como insightes, que são registrados pelo narrador com a inserção da palavra explosão entre parênteses: “Agora (explosão) em rapidíssimos traços desenharei a vida pregressa da moça até o momento do espelho do banheiro.” (p.35)

visite:http://cmais.com.br/clarice-lispector-ha-92-anos-nasceu-e-ha-35-anos-morreu 
https://www.youtube.com/watch?v=d6Dey5eb3xg


Geraldo Chacon


sábado, 20 de agosto de 2016

CONHECES LYGIA FAGUNDES TELLES?



                Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923. Filha de um promotor público e delegado de polícia, morou durante a infância em várias cidades do interior: Apiaí, Itatinga, Sertãozinho, Assis. Publicou seu primeiro livro, que depois renegou, aos quinze anos. Formada em Educação Física e Direito, trabalhou como procuradora do Estado e teve atuação marcante na imprensa paulista. Sua obra vem colecionando prêmios, incluindo-se o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, de Cannes, em 1969. O romance As Meninas recebeu, no ano de seu lançamento, prêmios da Academia Brasileira de Letras, da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Câmara Brasileira do Livro.

BIBLIOGRAFIA

A) Contos: Praia Viva (1944); O Cacto Vermelho (1949); Histórias do Desencontro (1958); O Jardim Selvagem (1965); Antes do Baile Verde (1970); Seminário dos Ratos (1977); Filhos Pródigos (1978); A Disciplina do Amor (1980); Mistérios (1981); Venha Ver o Pôr-do-Sol (1987); A Estrutura da Bolha de Sabão (1991) e A Noite Escura e Mais Eu (1995).

B) Romances: Ciranda de Pedra (1954); Verão no Aquário (1963); As Meninas (1973) e As Horas Nuas (1989).

Quer saber mais sobre ela? Então visite: 
http://www.releituras.com/lftelles_bio.asp 
http://www.academia.org.br/academicos/lygia-fagundes-telles/biografia

terça-feira, 16 de agosto de 2016

CANTIGA DE MINEIRO


Eu queria poder cantar
como se fosse um passarim.
Queria saber cantar,
mas pobre de mim
que só consigo chorar.


Eu queria ser alegrim
como se fosse um canarim,
mas fiquei a lamentá
como se fosse um sabiá.


Eu sonhava ser radiante
como se fosse uma aurora,
mas virei triste infante,
quando você foi embora.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

BOCA DO INFERNO define o priapo para as freiras

Gregório de Matos poeta e pinguço revolucionário, recebeu de uma freira UM BILHETE  perguntando o que era um priapo. Ele respondeu nestas décimas:

Ei-lo vai desenfreado,
que quebrou na briga o freio,
todo vai de sangue cheio,
todo vai ensanguentado:
meteu-se na briga armado,
como quem nada receia
foi dar um golpe na veia,
deu outro também em si,
bem merece estar assi    [assim],
quem se mete em casa alheia.

Inda que pareça nova,
Senhora, a comparação,
É semelhante ao Furão [mamífero usado em caçadas],
que entra sem temer a cova:
quer faça calma, quer chova,
nunca receia as estradas,
mas antes se estão tapadas,
para as poder penetrar,
começa de pelejar
como porco às focinhadas.

Tanto tem de mais valia,
quanto tem de teso, e relho,
é semelhante ao coelho,
que somente em cova cria:
quer de noite, quer de dia,
se tem pasto, sempre come,
o comer Ihe acende a fome,
mas às vezes de cansado
de prazer inteiriçado
dentro em si se esconde, e some.

Este, Senhora, a quem sigo,
de tão raras condições,
é caralho de culhões
das mulheres muito amigo:
se o tomais na mão, vos digo,
que haveis de achá-lo sisudo;
mas sorumbático, e mudo,
sem que vos diga, o que quer,
vos haveis de oferecer
a seu serviço contudo.

Usei muito esse poema em palestras e aulas, mas a versão que declamo é um pouco diferente, vou relembrar e colocar outro dia e também contarei um episódio hilário que ocorreu numa palestra para professores do Paraná em Faxinal do Céu,na Universidade de Professores.