sábado, 25 de outubro de 2014

ANSIEDADE E HUMILDADE

             O Dalai Lama quando questionado sobre seu modo de lidar com a ansiedade, deu uma grande lição de humildade e sabedoria, colocando como exemplo sua ansiedade antes de uma palestra a fazer: "Creio ter a honestidade e a motivação adequada é o segredo para superar esses tipos de medo e ansiedade. Portanto, se estou ansioso antes de uma palestra, costumo me lembrar de que a razão principal, o objetivo de proferir a conferência, é o de pelo menos trazer algum benefício às pessoas, não o de exibir meu conhecimento. Portanto, aqueles pontos que conheço eu me disponho a explicar. Aqueles que não entendo perfeitamente... não fazem diferença. Digo apenas que para mim aquilo é difícil. Não há nenhum motivo para esconder nada, nem para fingir. Com esse ponto de vista, com essa motivação, não preciso me preocupar quanto a parecer bobo ou me incomodar com o que outros pensem de mim. Descobri, portanto, que a motivação sincera atua como um antídoto para reduzir o medo e a ansiedade." (p. 305 de A Arte da Felicidade)
          Que pena! Muitos de meus professores na USP e muitos colegas meus dos tempos de cursinhos não tiveram esse saber e essa postura. Só que os alunos sempre percebem quando o mestre está tentando enrolar porque não conhece bem o assunto.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Significado de Paquetá e Guaratinguetá em tupi.

Na postagem anterior falei sobre alguns termos em tupi. Logo me apareceram algumas perguntas. Engraçado, sempre sobre cidades. Itanhaém, por exemplo, perguntaram porque notaram o ita que significa pedra, e querem saber o nhaém, o que é. Bem, significa prato e semelhante ao inglês, o tupi inverte os termos nesse caso, em vez de dizer "prato de pedra", apenas inverte e junta os termos "ita + nhaem", daí: Itanhaém.
Guaratinguetá apresenta uma terminação bastante comum em vários outros nomes de lugares, etá, que significa muito. Exemplo: Paquetá, resulta da fusão de paca + etá, logo o lugar devia ter muitas pacas no passado. Tinga é branco e guyra é ave, pássaro, logo devemos concluir que em Guaratinguetá as garças eram abundantes.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Significado de Itanhangá e Ipanema

Encontrei alguns equívocos em sites e blogs, por isso resolvi esclarecer aqui algumas coisas. Em vários sítios encontrei explicações que diziam, "é termo tupi-guarani", isso não existe, pelo menos foi o que aprendi com o prof. Eduardo Navarro, quando frequentei seu curso na USP (como ouvinte). Ou é tupi ou é guarani, como há o espanhol e há o português. Então, em tupi, i é rio ou água, daí que piraí, significa rio do peixe. Pira é peixe, então piracaia é peixe queimado. Em i + panema, o encontro forma "água fedida ou podre" como significado. O segundo termo funciona como adjetivo, uma característica do termo anterior. Então, itanhangá não poderia significar espírito de pedra, como vi em um dos lugares que procurava explicar o significado do termo. Ita é pedra e anhangá é um espírito da floresta (em um sítio encontrei diabo como significado, absurdo, os índios não tinham a noção dessa figura); então um sentido mais próximo da nossa cultura itanhangá seria "pedra viva", revelando a percepção de determinada pedra como dotada de alma, de espírito. Mais algumas palavras de que me lembro rapidamente: itaúna, pedra preta; ibiuna, terra preta; iúna, água preta; iguape, de i = rio + gua = enseada + pe = preposição em, o que deve ser traduzido como "na enseada do rio".

terça-feira, 21 de outubro de 2014

UM GAÚCHO DE PERNAMBUCO? EM ARRAIAL DO CABO?

O GAÚCHO DE PERNAMBUCA

(Está incluso no livro A VIDA QUE EU VI publicado pela Agbook.)
      Você conheceu o gaúcho da Pernambuca? Não, da Pernambuca mesmo. Não é de Pernambuco, já imaginou que gozado; um gaúcho de Pernambuco? Nada disso, era daqui da praia de Pernambuca, na divisa de Arraial com Araruama. Falei era daqui, por falar, ele apareceu, assim, do nada, um dia apareceu pedindo comida na casa da Rose, essa que trabalha aqui com a gente na pousada. Ela diz que ele nunca falou do passado dele, nem as outras pessoas que conheciam ele, ninguém nunca soube de onde ele veio, nem o que fazia antes. Aqui, ele pedia. Era um pedinte. Mas pedia com educação, com humildade. Era gentil, engraçado. Vez em quando trabalhava em coisa simples como cortar uma grama, ajudar alguém a cavar um buraco, um alicerce. Bebia, mas não de cair na rua ou fazer vexame.
      A Rose diz que a primeira vez que ele apareceu no portão dela, fez figura, falando com educação:
     - Minha senhora, desculpe-me se a incomodo, mas estou com fome e gostaria de lhe pedir para me arrumar alguma coisinha para comer.
     - Entra, vem comer com a gente.
     Parece que até esse dia ninguém tinha convidado ele para entrar, sentar na mesa com a família. Então, ele acabou voltando mais vezes e depois ficava conversando como se fosse um velho amigo da casa. Costumava ajudar em alguma coisa, teve um dia que ele até levantou antes da mesa, antes dos outros terminarem, e lavou toda a louça, assim, naturalmente, conversando, como se fosse um costume dele.
     Aconteceu um dia, de ele aparecer e a Rose ficar sem jeito, aborrecida, porque não tinham qualquer mistura em casa. E quando falou isso para ele, ficou ofendido, protestando que que ela estava pensando dele, que era como eles, que se eles iam comer sem mistura, ele também comeria porque ele não era ninguém especial, não era mais do que eles, que bobagem é essa, ele falou. Então ela pôs comida para ele que comeu tudo e quando terminou, elogiou:
       - Que feijão com arroz mais gostoso! Comidinha boa assim, nem faz falta de mistura.
      Várias semanas depois disso, a coisa ficou preta pra eles. O marido dela quebrou a perna jogando bola num domingo e ficou sem trabalhar uns dias. Ela precisou gastar com remédio para um filho que ficou muito doente. Até que certo dia, comeram o resto do que havia em casa e ficaram sem nada, mas nada mesmo para comer. Ela até desligou a geladeira depois que ficou vazia. E foi nesse dia que apareceu mais uma vez o gaúcho. Nessa época, ele já não chamava mais no portão, entrava direto. Quando Rose viu ele na cozinha, porque a casa dela não tinha sala, a cozinha servia de sala-copa e cozinha, então, como eu dizia, quando ela viu ele, ficou muito triste e a cara dela não engana ninguém, o que ela sente fica na cara. Se ela tá bem, você olha, vê ela sempre risonha, com aquele bocão escancarado. Se está ruim, não há jeito dela rir, de jeito nenhum. Então o gaúcho olhou para a cara dela e viu logo que a coisa não estava boa. Perguntou e ela falou:
       - Hoje tá difícil. Ele de um movimento rápido e natural abriu a geladeira e fechou.
       - Puxa vida, não tem nada mesmo!
      Só falou isso e saiu imediatamente sem nem mesmo dizer tchau. A Rose não achou estranho, não pensou nada a respeito do gesto dele. Eu, quando ela me contou, achei que ele foi um ingrato, quando havia comida ele ficava, conversava, agora, numa hora dessa, será que ele não podia conversar um pouco? Não é? Isso, distrair ela um pouquinho. Mas não era nada disso não, umas duas horas depois, ou pouco mais, voltava o gaúcho com uma senhora e os dois, em cada mão, traziam uma sacola, cheia de alimentos e ainda duas quentinhas cheirosas. A Rose virou uma cachoeira de tanto chorar.

     A Rose continua trabalhando aqui. Ele não, morreu. Ah! Não sei lhe dizer não. Só sei que o gaúcho morreu.
Geraldo Chacon

sábado, 18 de outubro de 2014

PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL

LÍNGUA BRASILEIRA OU PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL?



          Durante a semana alguém manifestou seu desejo que denominássemos nossa língua de brasileira e não de portuguesa. Nao hora disse-lhe que não via motivo para isso, mas não argumentei, nem desenvolvi o assunto, por falta de tempo. O problema, no entanto, ficou dando voltas na minha cabeça como um besouro inoportuno.
          Não foi a primeira pessoa que me disse isso e lembro-me vagamente de, no passado, já ter também pensado dessa maneira. É óbvio que nos orgulhamos do nosso idioma e olhamos para ele com certa vaidade e satisfação por saber que ele foi enriquecido pela língua dos índios, dos africanos, italianos e tantos outros povos com seus idiomas característicos. Claro que não podemos deixar de lembrar as mudanças que nós mesmos vamos proporcionando a cada dia, quase sem perceber, e quando damos conta, a linguagem dos nossos filhos já ficou muito distante da que falavam nossos queridos avós. Isso é fatal, irreversível e não há como impedir.
          Veio-me à lembrança uma mudança que acompanhou a minha existência desde 1970, quando me preparava para fazer o vestibular da FUVEST. Uma de minhas professores, disse que a palavra aperitivo no português arcaico, ainda em formação, significava purgante. Aconteceu um dia, dizia ela, que um sujeito foi tomar uma bagaceira, quer dizer, uma cachaça lá dos ibéricos, e fez uma careta quando enguliu, comeu logo um torresminho para tirar aquele gosto ruim, e reclamou:
        - Que horror, que aperitivo é esse que tu me deste, ô Manuel?
      Todos se riram e daquele momento em diante, vários passaram a pedir um trago com o novo nome: “Ô Manuel, dá-me um aperitivo daqueles teus!” E a moda pegou. Explicava nossa mestra, que o portuga tinha feito uma comparação entre as duas situações, ele estava tomando algo de gosto forte, desagradável, de barriga vazia, assim como quem tomava purgante. Nas duas situações, costumava-se dar uma cuspida e comer logo algo por cima, para tirar o gosto ruim.
        Em menos de dez anos, creio que foi em 1976, estava eu na casa de uma família, esperando pelo almoço para o qual tinha sido convidado. Estava com uma fome de cão abandonado. Lá da cozinha, vinham os sons de vozes e ruídos de panelas e tampas e outros acessórios da arte culinária. Em dado momento, a gentil dona da cssa foi ver como eu estava e perguntou se eu não queria um aperitiva. Fui bastante franco, porque agora chegava também, até meu nariz, o aroma da comida em preparação. Joguei verde:
         - Não, muito obrigado. Eu não posso beber nada assim, de barriga vazia, fico bêbado em poucos minutos.
          - Não, não é bebida, não! São uns queijinhos, torradinhas, coisas assim para enganar a fome até o almoço ficar pronto.
        Claro que aceitei e comi tanto que depois almocei só para fazer companhia e jus ao convite. A partir dali, incorporei que aperitivo não era mais apenas líquido alcoólico que se bebe antes da refeição, com desculpe para abrair o apetite. Daquele momento em diante, aperitivo era qualquer bebida ou alimento sólido que se toma antes da refeição principal. Se tivéssemos o interesse e a paciência de Guimarães Rosa, poderíamos fazer uma pesquisa e levantar uma porção de palavras que tiveram seu significado ampliado ou totalmente alterado pelos nossos compatriotas.
      Outra coisa de que nos orgulhamos é da riqueza de nossa língua. Um amigo meu, José de Alencar, calma, não aquele, o escritor, que não sou tão velho assim. Alencar é um paulista de cuja amizade pude privar desde os quinze anos. Ele ficou indignado certa vez, numa palestra na Biblioteca Mário de Andrade, ao ouvir um francês comparar e dizer que a língua francesa era mais rica do que a nossa. Alencar ficou furibundo porque, assim como nosso romântico escritor, amava o nosso idioma, especificamente o português falado no Brasil. Eu me lembrei disso imediatamente ao escrever “queijinhos” alí em cima. Recordei porque o meu amigo então pediu ao palestrante que traduzisse algo como “uma cazinha”, quando o francês fez a tradução literal, Alencar protestou:
        - Não senhor, eu não lhe disse “uma pequena casa” nem “uma casa pequena”, mas uma casinha.
       É natural que o francês não tenha entendido. Quando eu digo: “ontem conheci uma velhinha”, não estou dizendo que a mulher era pequena, mas que era bem velha mesmo, ou então que era uma velha muito simpática e eu fiquei querendo um bem muito grande a ela. Muitas vezes empregamos o diminutivo para expressar nosso carinho. Por isso, quando digo minha casinha está às suas ordens, os convidados não se espantam ao encontrar um casa com quatro quartos, sala ampla, cozinha muito grande. Constatam o carinho que sinto por ela e, também, podem notar aí um pouco de falsa modéstia. Isso também faz parte de nossa cultura.

      Não estou agindo cientificamente, nem era essa minha intenção, mas raciocinando como pessoa comum e não como professor. Quero apenas argumentar e convencer a quem pensa como a pessoa que me fez ter esses pensamentos, que tudo isso não justifica criar uma nova denominação para o idioma português. É e será sempre o português falado no Brasil, assim como o inglês falado nos Estados Unidos, na Austrália, ou o francês falado no Canadá e nos países colonizados pela França. Como diria meu amigo Paquale: “É isso aí”.
Geraldo Chacon

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Vitorino Carriço e Arraial do Cabo

CONVERSA COM VITORINO

Meu caro Vitorino, venho aqui como um garoto,
como se fosse um menino, para de ti receber instrução.
Foi por isso que com alegria saí bem cedo, logo de manhã,
e vim para sua casa, hoje denominada da poesia.


No entanto, por inibição,
dei uma volta pela prainha,
depois fui ainda mais longe,
caminhei até a Praia dos Anjos,
mas finalmente ganhei coragem
e aqui entrei resoluto
e estou firme, decidido.

Sei que perto de ti não sou nada, apenas um aspirante,
um novato atrevido, mas veja meu coração,
perceba minha sinceridade
ao expor minha fraqueza.
Só quero aprender contigo a beleza de fazer versos,
de dizer coisas boas, de agradar às pessoas,
de captar a alma da poesia.

Não, por favor, não se afaste de mim,
não fique irritadiço
porque isso não combina com seu nome,
quer dizer, sobrenome.
Dê-me a mão, faça-me companhia.
Agora há pouco, seu neto passou pela janela,
estava tão apressado o Júnior, nem nos viu.

Por favor, não seja severo, não me olhe assim,
porque eu, sabe, sou inseguro.
Sinto-me um tanto pateta,
um tonto, mas no fundo, eu sei,
que tenho alma de poeta
e às vezes, como você,
sinto uma ânsia insaciável
de amor e de amizade.
Assim como você, não desejo mais utopia
nem ser um rico nababo.
Só quero compor algo popular, singelo.
Talvez não tenha sido por acaso
Que tenha me ordenado o Fado
vir viver em Arraial do Cabo.

Geraldo Chacon

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ANGLO, CURSO APROVE E COLÉGIO BANDEIRANTES

Creio que jamais conseguiria decidir em qual das escolas acima eu tive maior prazer em lecionar. Se deixar de lado distinções como salário, plano de saúde, e levar em conta apenas a aceitação e o carinho dos alunos, não consigo mesmo resolver. Jamais em outras situações tive alunos tão bons, tão dedicados, tão respeitosos, amáveis, colaboradores, estudiosos. Eu dizia sempre para os do colégio que vivia pedindo a Deus que se tivesse que lecionar no céu, depois de finar, só o faria se houvesse salas com o mesmo tipo de alunos. Já no Aprove, cursinho para alunos das classes mais necessitadas, eu desbocadamente dizia que era puta, que dava aula em outras escolas pelo bom salário, mas que ali não, ali no Aprove eu dava quase de graça, dava por amor; aulas, é claro. Estou recordando isso porque acabo de abrir um velho livro que há muito não relia, nem consultava e descobri esse bilhete de uma aluna de Mogi das Cruzes:
Que alegria! Meus olhos transbordaram em cachoeira silenciosa e eu nem consigo lembrar do rosto dessa tão doce Bianca. Bianca, me perdoe, memória fraca, mas garanto que olho esse bilhete e me encho de carinho por você e torço para que um dia a gente possa de novo se ver e darmos um abraço apertado. A essa altura você já deve ser uma profissional realizada, semeando essa sua simpatia por todos que têm a sorte de viver próximos de você. A você e a todos meus amáveis alunos do Band, Anglo e do Aprove, um saudoso abraço. Minha vontade era prender todos aqui bem perto de mim.


domingo, 5 de outubro de 2014

POR QUE separadamente

      Faz algum tempo, comentei aqui alguns erros na internet e outro dia abordei a questão do emprego de porque e por que. Expliquei que quando se trata de pergunta, deve ser registrado separadamente. Agora mesmo vi um vídeo no Face em que aparece essa frase: "Sabe porque?". Deveria estar separado, por se tratar de pergunta. 
        Creio que na ocasião em que escrevi, não comentei que mesmo sendo a pergunta indireta, isto é, sem uso do ponto de interrogação, também deve ficar separado. Exemplos: Não sei por que a mulher é considerada sexo frágil. Gostaria de saber por que você gasta tanto tempo na rede e não dedica pelo menos alguns minutos ao estudo da gramática.
     E quando o sintagma está no final da frase, colocando acento mais forte na última sílaba, devemos acentuar graficamente também: "Você fez isso comigo por quê?"

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

POESIA ÉPICA E DRAMÁTICA - BIBLIOTECA DE ARARUAMA

Venha participar da segunda palestra, 09/10/2014, do ciclo  BATE PAPO LITERÁRIO, com início às 17 horas, na Biblioteca de Araruama. Nesse segundo encontro abordarei os gêneros literários ÉPICO e DRAMÁTICO, ilustrando com poemas de Camões, Gil Vicente, Oduvaldo Vianna, e texto de minha autoria. Sintam-se convidados e levem os amigos.
               

sábado, 27 de setembro de 2014

PORQUE e POR QUE, junto ou separado?

Você costuma ter dúvidas ao escrever "porque"? Sem muita teoria, guarde a seguinte informação; toda vez que escrever uma pergunta, escreva separadamente: "Por que você sempre me aborrece?".
Já ao registrar uma resposta, uma afirmação, coloque um termo só: "Aborreço porque você é muito chato!" "Eu digo sempre a verdade, porque mentir dá muito trabalho."

Veja que em "Esse é o ideal por que luto" ou ainda em "Nunca esqueci os problemas por que passei" não se trata de pergunta e resposta, mas outra situação. Sem usar gramatiquês, pense essas frases como se fossem assim: "Esse é o ideal pelo qual luto" e "Nunca esqueci os problemas pelos quais passei", logo precisa ficar separado "por que" porque se trata de duas palavras, independentes. Ajudou?

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ANTÍTESE E PARADOXO

Um amigo pediu-me para explicar a diferença entre essas duas figuras de linguagem, mas nem vou dizer nada, para ele e quem mais precisar dessa informação vou remeter diretamente para quem já fez isso: http://www.estudopratico.com.br/diferenca-entre-antitese-e-paradoxo/

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

ALITERAÇÃO

Pediram-me para explicar o que é aliteração, pois aí vai. Aliteração é uma figura de linguagem que enriquece o texto. É muito empregada pelos poetas e pelos compositores da MPB que conhecem bem a nossa língua. Consiste na repetição proposital de fonemas (sons) consonantais, veja esses exemplos:

Pedro pedreiro penseiro. Toda gente homenageia Januária na janela. (Chico Buarque)
Não importa a letra (grafia) como g/j ou c/ç/ss, mas apenas a sonoridade idêntica.

Vida, vento, vela, leva-me daqui... (creio que é de Belchior)


A frouxa luz da alabastrina lâmpada

Lambe voluptuosa os teus contornos... (Castro Alves) 

O poeta dos escravos foi muito feliz ao empregar essa aliteração, conferindo grande sensualidade, como que projetando sobre a luz da lâmpada o desejo do amante de lamber todas as curvas da mulher amada.


Troe e retroe a trompa. (Gonçalves Dias)



Em um poema procurei fazer uso desse recurso:

               AMADOR


A ponte aponta um ponto no horizonte.

Aponte o meu coração,
aperte o gatilho,
pouse em meu quarto;
parto de amor não dói.





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ray Charles tocando sax

http://www.jazzonthetube.com/videos/ray-charles/alto-instrumental.html

Sempre ouvi Ray Charles cantar, essa foi a primeira vez que encontrei um vídeo com ele fazendo música instrumental. Veja.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ALMEIDA GARRETT e Viagens na minha terra

O livro VIAGENS NA MINHA TERRA, de Garrett, foi um marco importante para o Romantismo tanto em Portugal quanto no Brasil, por ter rompido com os padrões da literatura tradicional, criando uma nova maneira de compor o texto e dialogar com seu leitor. Embora não tenha encontrado em Machado de Assis uma confissão clara, vejo nele muita influência do escritor lusitano. Procure ler a obra integral e para aguçar seu desejo vou traçar em poucas linhas do que se trata. Note, não é um romance, mas o relato crítico de uma viagem e de um tempo, onde se insere uma narrativa novelesca que se encaixa no quadro geral com perfeição.

RESUMO DO ENREDO

Conta, o narrador, uma viagem que faz de Lisboa a Santarém e uma história, “A menina dos rouxinóis”, que aconteceu no vale de Santarém. Inicialmente aparece uma velha cega, assistida pela neta, Joaninha. Em seguida, sabemos que há um misterioso frei Dinis, que frequenta a casa delas, toda sexta-feira. Então, quase simultaneamente, descobrimos que há um neto, Carlos, ausente. Os pais de ambos já morreram, estão os dois órfãos de pais e mães.
Depois, ficamos sabendo que o frei, era um frequentador da casa e amante da filha de dona Francisca, em quem gerou um filho. O marido traído e o cunhado armaram uma cilada para o amante, mas foram mortos por ele, que arrependido entra para a ordem dos franciscanos. A adúltera ouve do amante a revelação da trágica morte do marido e não o perdoa, chorando até a morte, que se dá por ocasião do nascimento da criança: Carlos, que cresce sob os cuidados da avó, até quando descobre parte da história e se vai de casa. Quando é ferido nos combates entre liberais e miguelistas, Carlos fica sabendo toda a verdade e mais uma vez foge. Joaninha, que nesses capítulos finais, descobre os outros amores de seu primo, enlouquece e morre. 

domingo, 14 de setembro de 2014

Janis Joplin no Brasil




MIM TARZAN

      Não, não fumo mais. Não. Nem um, nem outro. Parei de fumar faz tempo. Foi também quando decidi nunca mais falar inglês. Foi na mesma época. Foi por causa de uma mulher. Muito louca. Devia ter bebido todas. Eu estava na praia, na praia, é, lá no Rio. A moça foi chegando, sorrindo, maliciosa e com voz rouca, falando gringo, perguntou pediu se eu não tinha um. Falei emburrado que tinha, mas tava guardando pra fumar depois, quando fosse dormir. Ela não se deu por satisfeita, não foi embora, pelo contrário, chegou junto, encostou, passou o braço por cima do meu ombro e me deu uma mordiscada na orelha. Riu. E rindo disse que o meu inglês era ruim que nem meu coração. Em seguida, me deu o maior chupão no pescoço e enfiou a outra mão por dentro da camisa e encheu a mão com meus pelos. Falou que meu coração era frio, mas meu peito era quente. Falou que queria muito dar um bola, mas já que não havia jeito, então ia fazer outra coisa, e foi levando a mão por dentro do meu calção e catou meu pênis que já tava meio mastro. Eu fiquei quieto só pra ver até onde ela ia chegar. Ela envolveu com a mão e senti meu sexo pulsar dentro da mão dela e começou a inchar mais rápido. Ela riu muito e disse que ele era big e tava mais quente que meu peito. Ela puxou com força o calção para baixo e deitou-se no meu colo, cobrindo meu sexo de beijos e lambidas. Disse qualquer coisa que eu não consegui entender e encheu a boca com ele, ficou chupando não sei dizer quanto tempo e eu fazendo uma força danada pra não gozar logo, queria ficar sentindo aquilo mais tempo. Tava muuiiito bom. Acho que ela sentiu que eu ia gozar e parou. Parou seco e com uma das mãos, usando apenas o polegar e o indicador, ela enforcou meu brinquedo preferido abaixo da glande, é, da cabeça. Ficou apertando e a vontade de gozar passou. Acho que se ela não fizesse isso eu iria gozar, mesmo depois de ela ter parado.
      Ah! Foiii .. pera aí, deixa eu ver, tenho 63 anos, naquele ano eu estava com dezoito, então foi em 1970. Não, a praia não estava toda deserta. Praia no Rio, em tempo de carnaval, é difícil ficar deserta, mas passava gente longe e nem prestava atenção em nós. Acho que muita gente estava nas brincadeiras e folias. Deixa eu terminar.
      Eu já tinha deixado cair todo meu aborrecimento, estava desarmado, relaxado, quer dizer, quase, porque o tesão tava a mil e aí não se fica muito relaxado não, mas não estava mais irritado por ela ter vindo me tirar do meu sossego. Queria que ela continuasse. E ela continuou. Vendo que eu já estava mudado, porque minha mão já estava alisando as costas dela, ela levantou e começou a me beijar. Beijamo-nos muito tempo e eu passei a mão pelos peitos delas. Descarada que só ela, não ligava para nada. Chegou uma hora lá que ela arrancou meu calção e atirou pro lado. Parece-me que ela xingou qualquer coisa, em inglês, empurrou meu peito me deitando, depois deu uma cusparada na mão, espalhou pelo meu sexo e sentou nele com tudo. Aí, ficou brincando de cavalinho, subindo e descendo, mas não depressa, devagar, e dizia qualquer coisa como hot, big, e gemia. Depois, deixou-se pesar sobre meu corpo e passou a fazer movimentos esfregando-se em mim, para frente, para trás, para frente e para trás. Ficou assim um tempão, depois continuou mas fazendo movimento de um lado para o outro, aí levantava e abaixava e variava os movimentos. Chegou uma hora que a respiração dela mudou, ficou alterada, então ela se deitou toda em cima de mim, ficou me beijando. Senti que ela esticou e juntou as pernas apertando uma contra a outra, apertava e relaxava, e de novo, gemendo, e ficou fazendo assim até que gozou. Gritou e eu fiquei preocupado, foi, aí só é que eu pensei no que tava fazendo. Alguém podia aparecer e sei lá, podia ser linchado, pô, mas ela tinha gozado e eu não. Não podia deixar barato, nada disso, virei de modo que ela rolou na areia e do mesmo jeito que ela tava, eu só dei um balanço assim, ó, de modo que ela ficou deitada de lado na areia, de costas para mim, então foi só eu encostar naquela bundinha dela, penetrar fácil porque estava toda molhada mesmo, e aí fui eu que fiquei no vaievem até gozar. Dei uma mordida na nuca dela quando gozei e ela dizia bom, bom, muito bom.
      Ficamos muito tempo deitados, um ao lado do outro, olhando as estrelas. Eu acariciava o rosto dela e percebia uma porção de espinhas, isso, acne. Nome fresco e chique pra espinha. Para mim, não tem jeito, é espinha mesmo e pronto. Por todos os lados, então, eu ouvia som das músicas de carnaval. Antes eu não estava ouvindo nada. Ah, sim, antes dela aparecer eu ouvia, estava curtindo. Gosto de ficar isolado, prestando atenção nos sons, na mistura deles, música, gritos, rojões, buzinas. Essa agitação parece vida e até pode ser, mas pode ser ilusão. No meio dessa alegria, há bastante tristeza esprimida. Então, acabou besta, bestamente, teve uma hora lá que ela sentou, ficou triste, chorou um pouco. Eu pensei logo, vai me pedir dinheiro, aposto. Mas não, entendi mais ou menos que ela tinha sido expulsa do hotel e ia dormir num quartinho de um cara, acho que amigo, tinha oferecido. Eu não podia fazer nada, se levasse para minha casa, meus pais me matavam. Então, como eu não falava nada, ela disse que tinha que ir e ao se despedir me disse como se estivesse tentando falar português, ou... sei lá, sei que entendi ela dizer “mim Jane”. Não perdi a chance, respondi rápido para ela, em cima da pinta, “mim Tarzan”. 
      Depois que ela se foi é que eu vi como tinha sido burro e ingrato. Burro porque podia ter ido com ela, para saber onde ia ficar. Ingrato porque podia ter dado meu cigarrinho para ela, que tinha me dado tanto prazer. Uns três dias depois, por acaso, porque eu não leio jornal, peguei um jornal pra ler no meu barbeiro e vi uma notícia de cantora americana encrenqueira que tinha aprontado nas casas noturnas. Eu tinha transado com Janis Joplin.
Geraldo Chacon

sábado, 13 de setembro de 2014

AMOR E BELEZA

Quanto a arte da poesia se encontra com  a música e cria clima de magia, a alma suspira e voa. Poema do falecido Ivan Junqueira e a música de Denise Emmer. As imagens assim como a qualidade delas tiraram-me o fôlego.

http://youtu.be/9Vz8c6qSJE4

Antonico, de Ismael Silva - erros de gramática na MPB

    
    Antes de falar sobre a canção “Antonico” do compositor Ismael Silva, quero explicar a palavra viração e a ordem das palavras nas frases. Em um texto, tanto você pode empregar a ordem direta quanto indireta. Viração pode significar ajuda, uma força, colaboração, proteção. Por exemplo: O Nestor precisa de uma viração. Quer dizer, precisa de uma ajuda, de uma força. Quando dizemos algo, podemos fazer basicamente de duas maneiras. Exemplo: “Eu gosto de feijão com arroz” (essa é a ordem direta, mais natural, porque mais empregada) ou “de feijão com arroz eu gosto” (agora colocamos na ordem indireta). Outro exemplo: Fazer o recenseamento do país é necessário. (empregamos a ordem direta, agora vamos colocar na ordem indireta:) “É necessário fazer o recenseamento do país”. Quando usamos a ordem indireta, costumamos distrar-nos e cometer erros de concordância. Agora leia parte da letra e veja se nota o erro.
Ôh Antonico. Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade

        Essa canção é como que um bilhete que alguém está escrevendo para o amigo Antonico, pedindo-lhe uma ajuda para o amigo Nestor. Ele diz que: “é necessário uma viração pro Nestor” o correto seria dizer “é necessária uma viração pro Nestor”. Se dissermos, na ordem direta, que “uma viração é necessária”, fica mais evidente a forma correta. Alguma coisa é necessária, alguma ajuda é necessária. Sempre no feminino, necessária, concordando com o sujeito. Somente ficaria no masculino “necessário”, se o sujeito fosse masculino, como: “É necessário seu parecer”, ou, “É necessário seu comparecimento”.
     

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Biografia do autor de "Memórias de um Sargento de Milícias".

Curta a curta biografia de:
Manuel Antônio de Almeida



BIOGRAFIA

      Manuel Antônio de Almeida, filho de portugueses pobres, nasceu no Rio de Janeiro a 17 de novembro de 1831. Almeida ficou órfão de pai aos dez anos de idade, tendo conhecido bem a pequena classe média urbana carioca que mais tarde retrataria em seu único romance. Estudou no Colégio São Pedro de Alcântara e fez um curso de desenho da Escola de Belas Artes. Formou-se em medicina no ano de 1855. Para Sobreviver, Almeida desde cedo trabalhou no jornal o Correio Mercantil, ora como revisor ora como redator. Nesse mesmo periódico publicou as Memórias de um sargento de milícias, de 27 de junho de 1852 a 31 de julho de 1853. Almeida não assinou a obra, mas usou o pseudônimo “um brasileiro”. O autor ainda não tinha completado 22 anos. Em 1858, Almeida ingressou como administrador na Tipografia Nacional, onde trabalhava o aprendiz de tipógrafo Machado de Assis, na época com 19 anos. No ano seguinte, Almeida foi promovido a Segundo Oficial da Secretaria dos Negócios da Fazenda.
      Morreu num naufrágio a 28 de novembro de 1861, quando iniciava sua carreira política.

Somente após a morte, ficou consagrado por seu único romance: Memórias de um sargento de milícias, cuja publicação no século XIX não trazia o nome do autor. Posteriormente, a obra foi reeditada em dois volumes (1854-1855), com alterações na ordem dos capítulos e assinado por “Um Brasileiro”. Depois disso a obra caiu no esquecimento e só muito mais tarde, no período do Modernismo, passou a ser valorizada.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

JORGE AMADO

Uma curta biografia e lista de suas obras:

JORGE AMADO


Jorge Amado de Faria nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia (município de Itabuna Bahia). Seu pai era comerciante em Sergipe, mas chegou a possuir terras na região do cacau (sul da Bahia). Amado fez o curso primário em Ilhéus, onde passou a infância. Aos onze anos, transferiu-se para Salvador com a finalidade de realizar os estudos secundários em um colégio jesuíta, onde conheceu o padre Cabral, pessoa de capital importância na formação do escritor devido à sua erudição.
Em 1931 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde posteriormente forma-se em Direito e inicia-se na política. Foi muito significativa sua militância na esquerda brasileira, vários de seus livros são dedicados a Luís Carlos Prestes, líder comunista brasileiro. Além de sua vivência nos centros urbanos, Jorge Amado viaja várias vezes pelo interior da Bahia e Sergipe e busca sempre transpor essa vivência e os conhecimentos aí adquiridos para sua produção literária como em: Cacau, Jubiabá, Mar Morto e Capitães de Areia.
Ainda no decênio de 30, conhece a América Latina e vê seus romances serem traduzidos para diversos idiomas. Entre 1936 e 37 ficou detido por opor-se ao Estado Novo, esteve exilado na Argentina de 1941 a 1943. Após a II Guerra, é eleito deputado pelo PCB, mas parte em exílio voluntário com o fechamento do partido. De 1948 a 1952 viaja pela Europa e Ásia. De volta à pátria, dá continuidade à produção literária, dando a esta o acento da ambientação regional, com um estilo menos polêmico e linguagem mais elaborada. Em 1959 é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em agosto de 2001. Sua obra prima foi, sem sombra de dúvida, Os Velhos Marinheiros, que contém duas excelentes novelas, dotadas de muito humor.

BIBLIOGRAFIA


Em matéria de romances publicou: O País do Carnaval (1931); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar Morto (1936); Capitães da Areia (1937); Terras do Sem-Fim (1942); São Jorge dos Ilhéus (1944); Seara Vermelha (1946); Os Subterrâneos da Liberdade (1952); Gabriela, Cravo e Canela (1958); Os Velhos Marinheiros (1961); Os Pastores da noite (1964); Dona flor e seus dois Maridos (1966); Tenda dos Milagres (1969); Teresa Batista Cansada de Guerra (1972); Tieta do Agreste (1977), Descoberta da América pelos turcos, além de teatro e poesia.

Para mim, sua melhor realização são as duas novelas que formam Velhos Marinheiros, que gravaram fundo em mim o Vasco Moscoso Aragão e o incrível Quincas Berro D'água. Inesquecíveis personagens, muito bem construídos. O seu último livro, Descoberta da América pelos turcos, agradou-me imensamente, embora não veja na obra uma grande construção artística. Mesmo assim, é um livro leve e agradável que sempre recomendo aos meus amigos.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Conto erótico

BILITA

Eu num sô nada... nada só... titiquinha de nada rodando, sonhando num mundo sozinha. Cachorrinha perdida no mato sem caçadô. Mãe nunca tive. Pai num tive. Num sei de nada de mim quando piquinininha. Cum cinco ano tava na casa dos ôtro. Levando merenda pros home na roça, dibuiano mio no paió, cuidano das galinha...tudo em troca do de cumê e de rôpa usada. Tava uma hora num sítio, outra hora em otro. Assim inté os doze ano.
Veio o primero home. Eu num sabia de nada. Foi aí que conheci o fogo que tinha dentro de mim. Era a fazenda de um home sério, desses de igreja, bravo que nem padre. A muié era iguar. Um vaquero dele me oiô e fiquei presa. Deu uma tremedeira pro dentro. Ele ficou oiando e andando pro quintal e eu... fui também... Senti que ele me mandô com os óio, com o jeito isquisito de me oiá. Fumo inté o pé de maracujá, ele tava cum medão... eu tava doida... doida varrida... arguma coisa mexia dentro de mim... aí eu ia sabendo e de repente já sabia que eu ia me discubri, que eu ia sabê ôtras coisas. Ele apanhou uma frô de maracujá... bem aberta... quis falá, mas só abriu a boca... Pôs a frô nos meus cabelo e me deitou no chão. Alevantou minha saia e abriu minhas pernas... passou a mão em mim e eu vi o verde rodá em riba... nuns pedaço eu via o azul do céu. Aí ele abriu a barguia e eu vi o passarinho dele. Tava duro... veio pra riba de mim... parecia que o mundo tinha parado, que o tempo num andava mais... inté eu num respirava mais. Os passo do patrão botou pedra nas vontade dele. Ficou parado, iscuitando com os óios arregalado... o passarinho dele foi incoiendo e ele fugiu. Ninguém chegou e eu fiquei ali deitada que nem calango no sol, gostando daquela quentura gostosa... eu num entendi tudo... mas fiquei sabendo que aquilo era no secreto, nos esconsos de tudo, no iscundido dos outros.
Passô  uns dia só e eu fiquei sozinha com otro home. Era um véio que ninguém ligava pra ele. Eu queria o que eu não sabia. Mas ele devia saber como o otro. Oiei pra ele e oiei pro paió. Fui andando e oiando... e ele foi indo... foi indo... eu já fui fazendo o que eu sabia, deitei nas paia de mio, levantei a saia e abri as perna. O véio ficou respirando forte, fungando bravo que nem cavalo e foi tirando meu vistido todinho... me beijou, me mordeu e eu sinti uma tontêra boa que nem vi o que ele fez. Sinti uma dô que me rasgava e parecia que ele todo tava entrando dentro de mim. E ele ficava mexendo, mexendo e eu vi o mundo se acabá, a terra toda morrê e me deu uma vontade de gritá e eu gritei. Ele pôs a boca na minha e me calou. Arguém iscuitou, pruque logo foi a maió confusão. O patrão me tocô, a muié dele me rogô praga e eu saí pra puêra da estrada. Num chorei. Sofri poeira e calor. E tudo parece que foi pro mode eu intendê. Todo mundo achava que era errado, só eu que via que num havia errado nenhum.
Tava pensando ansim, quando veio um carro-de-boi gemendo. Eu nem oiei e nem pidi, mas o home falô pra mim ir junto e repartiu comigo sua merenda. Vi que o mundo também tinha suas bondade, que a vida mesma era ora boa ora ruim, de misturado e remexido. Apruveitei a hora boa. Ansim faço inté hoje. O mais é o que acontece. Fui de arraial em vila, de um lugar a ôtro. Um dia, fiquei doente e me levaram prum hospitá. Um dotô bonito me deu remédio e me cuidô. Quando fiquei boa, me levô pra casa dele,me deu ropa boa, pra mode eu trabaiá. Uns dia dispois, eu tava deitada e ele entrô no meu quarto. Fiquei quieta, fingindo drumi. Ele abriu minha camisa de botão e foi falando muita coisa que eu nem num ouvia direito. Passou a mão tão macia de um jeito tão macio, beijou meu peito e eu nem mexi. Fiquei quietinha por fora, nem tremi... tremi só por de dentro. Por dentro era um monte de arripio e de tremura. Quando ele deitou em riba de mim eu ria e chorava, mas só lá dentro, com tudo em brasa. Só quando ele falou "abre a boca, me dá sua língua, me dá sua língua" foi que eu mixi, obedeci. Ele intão disse "sabia que você tava acordada". Aí, todo dia nóis fazia a mesma coisa. De dia eu cuidava da casa dele e quando a noite chegava eu drumia e ele ia na minha cama e a gente apruveitava muito tempo, fazendo tudo muito gostoso.
Um dia, um moço me pidiu em casamento. Antenô, moço sacudido, trabaiadô da roça. O doutô quis que eu decidisse, falô que num era meu pai, mas punia por mim. Também num pudia impidi se eu quisesse. Eu quis, e fumo morá afastado de lá. Nem duas semanas tinha passado e o doutô foi me visitá, pra sabê cumo é que tava passando, se eu precisava de arguma coisa, que isso e aquilo, mas eu logo vi o que tava querendo e ele num resistiu e acabô me pidindo. Tadinho. Caído no chão, de jueio, é, divera, ajueiado como se tivesse rezando e chorando que nem minino. Cumé que pode? Cumé que eu pudia dizê não? Ele me abraçava as perna, me beijava os juêio. Levei ele pro quarto e pela primeira vez ele ficou quieto e eu fiz tudo o que queria. Ele ria... disse que num divia ter deixado eu me casá. Que eu valia ôro vivo. Só me alembrei que eu era casada, quando meu marido bateu na porta. Saí correndo, pensei que o dotô fugia pelo fundo. Tentei segurá o Antenô, mas ele parece que viu tudo, que sabia tudo. Entrô que nem louco e foi quebrano tudo inté chegá no quarto. Matô... matô e fugiu, foi pra jagunçagem. Hoje é o famoso Calango. Bicho terríve.
Eu saí dali com o vestido que tinha posto na hora da aflição. Pequei nada não. Fui embora suzinha e Deus. Muito tempo despois conheci um home danado de bonito. Paulo, até o nome dele me enchia de alegria. Paulo, Paulo, Paulo! Trabalhadô da estrada de ferro, me namorô, me gostô e disse que queria casá. Falei que na igreja já num podia mais. Tava casada e com marido fugido, mas num tinha casado nu tar de civil. Ele quis e casô cumigo só no cartório. E pra mim era a mesma coisa. Eu tinha casa de novo, tinha marido e era uma muié casada como as ôtra. Só que o Paulo num me intendeu. Eu agora sabia que tudo tinha acontecido para eu saber que eu ia ser tudo o que agora eu era. Eu era mulher, muié. Queria tudo, toda hora. De manhã era o melhor. Acordava Paulo com carinho e ele reclamava que tinha de trabaiá, que ficava com as perna bamba. Quando ele vinha de tarde eu nem deixava ele tomá banho, queria mesmo era aquele  chêro, chêro de home que me ardia e me deixava que nem lôca. Depois eu dava um banho nele e aí ele cheroso, com aquele chero de limpo eu num güentava e queria mais, porque também assim era gostoso, era um ôtro gosto, um ôtro jeito. Ele pedia "deixa eu jantá". Eu falava "adispois". E  despois da janta quando eu cumeçava ôtra vez, ele me arreliava e se  empombava:"Que é isso, muié? Cê num sussega, a estrada é de ferro, mas eu num sô!" Tinha vez que ele num reclamava, mas ficava muito parado e num era a mesma coisa como no tempo de namôro. Nesse tempo, quando a gente se via, ele também era um fogo só e num esbarrava de me fazê festa, de me muquiricar. Agora, ficava que nem coitado.
           Um dia, acordei e ele tinha sumido. Me abandonô. Foi aí que vim pará na casa de muié-dama. 
Geraldo Chacon 
(Do meu livro A VIDA QUE EU VI, publicado em e-book, pela Amazon.)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MORADORES DE RUA ou Homeless

A MORADORA DE RUA


Lendo uma matéria sobre moradores de rua, perdi o rumo em uma das linhas e viajei para o passado. Uma lembrança forte tomou conta de mim. 


Não vou conseguir lembrar mês e dia, mas a hora, veio-me à mente com precisão. Eram 6 da manhã. Frio pra caramba. Eu vi uma senhora que se arrumava, parecia ter acordado naquele instante. Foi numa calçada de uma rua próxima ao Parque Antártica. No instante em que a olhei, seu olhar também me distinguiu na massa de veículos que passavam e me sorriu. Ainda tive tempo de corresponder ao sorriso que era meigo, puro, angelical. Pela Dutra afora, fui me lembrando daquela gentileza, simpatia!
Uns dez dias depois, domingo pela manhã, um pouco mais tarde, creio que 7:30, seguia rumo a Dutra. Ao sair da Rebouças, pegando à esquerda com o propósito de seguir pela av. Pacaembu, lembrei-me daquela senhorinha e não resisti, peguei a Dr. Arnaldo, dali pequei a Sumaré e fui para lá com a intenção de parar e conversar com ela. Estaria lá? Me perguntava.
Estava, no mesmo lugar. Parei frente a um bar e pedi que preparassem um pão com manteiga e um pingado para viagem. O senhor do bar perguntou se era para muito longe.
– Não senhor, é para aquela senhora que dorme nessa mesma calçada.
– Ela não toma café e eu não tenho pão.
E preparava-se para jogar o café de volta na cafeteira, quando lhe pedi que fizesse o pingado que eu mesmo o tomaria. Então ele me sugeriu levar um quibe para ela. De quibe ela gostava. Ele me disse.
Foi o que fiz. Quando dela me aproximei e ofereci o salgado, dentro de um saquinho, ela agradeceu timidamente e mais recatada ainda se justificou:
– Vou guardar para comer depois. Estou de jejum. (Lembrei-me de minha avó, Dindinha, que jejuava toda primeira sexta-feira do mês. Dia que, invariavelmente, durante anos, comungava.) Disse-lhe então que não era sexta-feira, mas domingo, e ela explicou-me:
– Jejuar sempre faz bem pra gente!
– Você é religiosa? De que religião?
– Sou evangélica.
Ofereci café, só para ver se confirmava o que dissera o homem do bar. Ela gentilmente recusou e agradeceu. Desejei-lhe boa sorte e segui meu rumo com mil questionamentos a respeito. Minha querida ex-aluna Nancy perguntou se eu concluiria esse texto e a resposta que lhe dei ficará como fechamento dessa história:

Nancy, concordo com você sobre o tempo na internet. Dedique-se mais aos estudos e menos ao mundo virtual. Quanto à moradora de rua, estou com saudades dela. Reli a crônica porque você tocou no assunto e quer saber como vou concluir. O mais importante foi o acontecimento e que as pessoas possam tirar suas próprias conclusões. Por exemplo, pessoas boas, não deixam de ser assim porque a vida lhes retira os bens materiais. Assim como pessoas ruins, geralmente, não se tornam boas quando sofrem perdas radicais. Quando puder, veja o filme "Ensaio sobre a cegueira".

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Carta do chefe Seatle "A terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra".

CARTA DO CHEFE SEATLE AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

Este documento é um dos mais belos já escritos sobre  o uso do solo - é uma carta escrita em 1854, pelo Chefe Seatle ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, quando este propôs comprar as terras de sua tribo.




“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha .
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados  na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem - todos pertencem à mesma  família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe, diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar à suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo, o murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças, se lhe vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreende.
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o possuem, mas sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador.
Os brancos também passarão, talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa, impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.”