sábado, 28 de novembro de 2020

OS DITOS E OS MALDITOS

 Provérbios, ditados ou ditos podem ser bons e convenientes muitas vezes. No entanto, é bom tomar cuidado porque também podem levar a um resultado que você não deseja. Escolhi 4 para refletirmos sobre isso.



NEM TUDO QUE RELUZ É OURO.

                      AS APARÊNCIAS ENGANAM.

Tudo bem quanto ao primeiro, concorda? Há muita coisa que pode brilhar, mas não é ouro, nem prata. O que esses dois ditados querem advertir é para você não se deixar enganar pelas aparências. Claro, já me comovi com um pedinte que tocou meu coração antes mesmo de abrir a boca. Ia pela avenida Paulista quando o vi e pensei "aquele cara vai me pedir dinheiro, coitado, mas veja que ele precisa muito" e foi o que aconteceu, contou-me uma história comovente e dei a ele o dinheiro para almoçar. Segui em frente feliz por ter ajudado, mas minha amiga, que havia marcado de almoçar comigo, já havia saído do escritório e voltei pela alameda Santos. Numa esquina com rua transversal que dava pra Paulista, sentado no meio-fio, cabeça baixa, lá estava o pedinte contando um generoso pacote de notas. Ao me ver e reconhecer saiu em desabalada carreira, mas eu dei risada sozinho porque pensei "esse cara é um artista muito bom... antes de dizer o texto já havia me transmitido o que iria dizer". Espero que quando eu estiver no palco consiga isso também nas minhas apresentações. 

Agora veja uma coisa, enquanto o primeiro é metafórico, sugestivo, o segundo não, é direto e objetivo, não precisa interpretação; as aparências enganam. Sim, isso pode acontecer, mas eu discordo e não gosto desse ditado porque ele diz isso com jeito assim de que sempre as aparências enganam. Não mesmo, às vezes, mas na maioria das vezes eu tenho percebido pelas aparências o safado, a quem não ajudo, e o necessitado. A pessoa que é boa e merece amizade e o sujeito que é espertalhão e deve ser vigiado. Errei raras vezes quanto a isso.

Outros dois para refletirmos sobre eles.

O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE.    -      PENSANDO MORREU UM BURRO.

O primeiro é semelhante na intenção aos dois já mencionados, e já vi exemplos disso à minha volta; ainda na adolescência uma amiga se vestia com um apuro e luxo que levaria estranhos a pensarem que era rica, mas coitadinha, vivia de baixo salário e cheia de dívidas. O que faz o monge são os seus hábitos, suas práticas místicas e não a roupa. Em vários filmes já vi personagens se vestirem de monges para enganarem as autoridades.

O último eu escolhi hoje porque eu o detesto. A expressão não é boa para dizer aquilo que quem criou desejava mesmo dizer. Queria transmitir recomendação para não se pensar muito nem tentar ficar refletindo até se esgotar para resolver algo que está fora do seu alcance. Se o problema é doença e o meu trabalho é literatura, devo consultar um médico. 

Agora chamar um aluno de burro é horrível. Como professor sempre me entristecia quando algum profissional da minha área se expressava assim ao falar sobre aluno com dificuldades no aprendizado. Pensem comigo, o animal a que designamos com esse termo, burro, é muito inteligente; escapa mais e melhor dos buracos do que o cavalo, é famoso por escapar das cobras e muitas outras espertezas de que não me recordo agora. Só que esse quadrúpede tem um defeito terrível que incomoda todos os seus proprietários ou condutores; quando se aborrece ou se irrita com algo, trava no lugar e não há quem o faça se mover. Foi isso que um dia, faz muito tempo, um professor (nunca vamos saber qual foi) vendo que o aluno não avançava na lição, não conseguia passar para a seguinte, comparou-o com o burro.  Isso me fez lembrar um caso que aconteceu com meu primeiro aluno de aula particular, mas vai ficar para a próxima postagem.  



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