sábado, 1 de dezembro de 2012

SURPRESAS DA VIDA



                 O que vou contar agora aconteceu em outubro de 2009, quando ainda morava num sítio, na zona rural de Santa Isabel, vale do Paraíba. Vivia quase em isolamento completo, não dispunha de televisão nem telefone, via à minha volta só mato e pastos. Descobri em minha agenda daquela época a seguinte anotação:
               “Sempre tive a mania de me levantar à noite e andar às escuras pela casa. Dia desses, quer dizer, uma noite dessas, levantei-me para ir ao banheiro e não acendi a luz. Fui tateando até lá e quando passei pela porta quedei pasmo. Espantado. Tinha diante de mim um espetáculo inusitado. Havia pequenas estrelas pelo chão, pelas paredes, pelo teto. Uma dúzia delas. Lindas! Pequenas e cintilantes. Parecia que eu estava no céu, flutuando. Não entendi. Quedei em êxtase. Que seria aquilo? Era um micro universo dentro do meu banheiro. O meu sítio tem me reservado algumas pequenas surpresas, mas aquela era muito grande. Invoquei os espíritos de Borges e Cortázar para que me explicassem, mas antes de que algum deles se apresentasse, constatei que as estrelas se moviam em diversas direções e só então compreendi que eram vagalumes. Dezenas de vagalumes haviam entrado pela janela do banheiro que eu deixara aberta!”
            Relendo, eu consegui recuperar na memória que havia publicado esse fragmento no extinto site da editora Flâmula. Vou divulgá-lo outra vez, não porque haja qualidade estética, mas para que nos lembremos de que muitas vezes a alegria da vida pode estar em pequeninas surpresas do cotidiano.

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