domingo, 22 de maio de 2016

PAPO DE MULHER

PAPO DE MULHER   


− Ah! Joana, eu queria tanto ele para mim!
− Deixe de bobagem, Maria!
− Bobagem nada, você não imagina como eu gosto dele. Outro dia eu pedi para ele; “Dá você pra mim, dá?”
− E ele?
− Disse que não podia, que tinha compromisso, que antes de me conhecer já tinha se dado para outra.
− Quando vocês começaram, você sabia disso?
− Sabia, mas pensei que ele ia mudar.
− Bobona, ainda bem que ele não mudou de ideia.
− Tá maluca? É tudo que eu queria, ele só para mim, para eu cuidar dele, fazer comidinha pra ele.
− Só que aí, você ia ter também que aturar as coisas chatas dele.
− Como assim?
− Muita coisa que eu não sei dizer, que você nem pode imaginar, mas assim, tipo roncar muito de noite, ficar enchendo o saco durante o dia, trazer amigos pentelhos para dentro de sua casa, e muita coisa que a gente não imagina quando tá só namorando. Aí é só o bem-bom!
− Por falar nisso, ontem foi assim, muito bem bom, ele chegou correndo, dizendo que tinha que voltar logo, que a mulher tava esperando ele. Fiquei doidinha, menina. Fiquei com raiva dele e só de raiva arrastei ele pro quarto, joguei ele na cama, sentei bem em cima da arma dele, e fui abrindo a camisa dele, mordendo, abrindo, beijando, abrindo, até tirar ela. Depois, me esfregando sempre em cima da honra dele, arranquei minha blusa, meu sutiã, e perguntava irritada “tá com pressa?”, “diz pra mim, agora, que quer ir embora, diz!”. Aí, arranquei a bermuda dele e fui mordendo a barriga, enquanto tirava toda a minha roupa e ele quietinho, quentinho, com a arma endurecendo e eu me esfregando em cima.
− E ele?

− Ele não abriu a boca, ficou de bico calado, e eu continuei me esfregando e tirando tudo, então me curvei e aninhei o passarinho dele, já um gavião de grande, entre meus seios e enchi a barriga dele de beijos. Então ele me arrancou de cima dele e fez miséria comigo também. Foi muito louco, muito arretado. Gozamos ao mesmo tempo, juntinhos, como nunca tinha acontecido. Queria tanto que ele ficasse o tempo todo comigo!



− Pois é sua boba, aí então, nada disso acontecia mais. Só foi assim, porque vocês ficam sem se ver e quando se encontram vem esse fogo todo, se casar ou se juntar, o fogo vai ficar morno. Eu tive uma amiga que ficou dois anos reclamando na minha orelha que o amante não deixava a mulher, que arrumava um monte de desculpa e não queria ficar com ela. Aí eu me enchi e falei para ela que desse uma intimação pra ele. Fiquei quatro meses sem me encontrar com ela e quando a gente se encontrou de novo ela me contou que conseguira arrancar ele da outra, mas que com duas semanas não aguentou mais os roncos dele e as chatices dele, mandando ele de volta para outra, que não quis mais. Acho que ela percebeu o alívio que sentira sem ele durante aqueles dias. Ele está sozinho até hoje.
− Mas você com seu marido estão bem, que eu vejo. Ele é cavalheiro, abre a porta do carro pra você. Ninguém mais faz isso hoje em dia.
− Ah! Faz-me rir. Isso ele é fora de casa, para os outros verem. Para se exibir. Dentro de casa a novela é outra, o bicho arrota que parece um porco e peidar então! Nossa, cada peido alto e extravagante que me deixa broxa. Ontem, acordei, disse “bom dia” para ele, que em vez de me responder, o cretino, levantou os quadris e soltou um sonoro rojão de festa junina. Pior foi na semana passada, a gente começando a transar e ele soltou um desses peidos exagerados. Não aguentei, tirei fora e saí do quarto, enquanto ele ria como se aquilo fosse muito engraçado.
− É mesmo? Ah, mas com a gente vai ser diferente, eu tenho certeza, ele é um docinho.
− Docinho agora, mas depois pode virar um salgado gorduroso ou amargo, um jiló.

− Não faz mal, eu gosto de jiló, quiabo, diabo a quatro.
*

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