terça-feira, 1 de abril de 2014

GUILHERME DE ALMEIDA

Encontrei um poema que sempre amei, de autoria de Guilherme de Almeida, vou transcrevê-lo. Amo esse poema desde minha adolescência e agora sei a razão; além do tema do amor livre, há uma beleza no emprego das rimas e de um ritmo que inicia rígido com o clássico decassílabo, mas logo é quebrado, num jogo sincopado muito interessante.Veja:
A Hóspede                

Não precisa bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.

Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo
pousará nos teus joelhos a cabeça.

Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.

Dorme. Sonha. Desperta. Da colmeia
nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
e vai. Há sol nos frutos dos pomares.

Não olhes para trás quando tomares
o caminho sonâmbulo que desce.
Caminha -
 e esquece.

* Linda hipálage, "caminho sonâmbulo que desce", não é o caminho que é sonâmbulo, mas a mulher que se vai.

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