domingo, 14 de junho de 2020

QUANDO FOI QUE TUDO COMEÇOU?


Eu não sei, mas ouvi falar algumas coisas que vou procurar contar aqui, mas pode não ter sido bem assim. Depois até, vou contar um caso que eu sempre contava e que acreditava piamente que era tudo daquele jeito que eu contava e que tudo aquilo tinha acontecido comigo quando criança, mas... depois eu conto. Vamos ao que fiquei sabendo que aconteceu com eles.
Nossa história começa, provavelmente, em 1943. Se não foi exatamente nesse ano, pode ter sido um ano antes, ou depois disso, não passa disso.
Ela era uma moça de apenas 16 anos e sentia-se diferente das outras mulheres, principalmente diferente de suas 8 irmãs. Identificava-se mais com os irmãos, com quem trabalhava na roça. Nada de ficar na cozinha e na costura ou demais atividades das mulheres. Sabia fazer de tudo, mas gostava mesmo era de estar plantando milho, feijão e outras cositas. Tinha arrepios de irritação quando lhe falavam em casamento, dizia que jamais se casaria com caipiras cascudos.
Ele apareceu como um príncipe inesperado. Viera com um caminhão, passando pelas fazendas encomendando carvão que levaria para a companhia siderúrgica que fica em outra cidade.
Naquela fazenda, em que ela vivia, era a primeira vez que alguns trabalhadores viram um caminhão. Chegara quando o sol caía e viera com os faróis acesos, por isso no dia seguinte, quando apareciam outros trabalhadores ou moradores dali, os que viram aquela maravilha chegar, pediam para o motorista:
- Acende os óio do bicho pr'eles vê!
E o motorista atendia, rindo-se muito daquela ingenuidade toda.
Esse motorista tinha 32 anos, nascera em Belo Horizonte, último filho de um espanhol chamado Agapito. Era muito bonito e ela se apaixonou por ele, que parece ter correspondido. Tanto que á noite, andou bebendo com os rapazes dali e cantou com voz poderosa canções que falavam de amor. Ela jamais se esqueceria dos versos como "Lua, manda tua luz prateada despertar a minha amada... Quero matar os meus desejos, sufocá-la com meus beijos..." Aquilo deixou-a tonta de desejo, enfim, era o homem de seus sonhos; bonito, romântico, despertava admiração de todos, vinha da cidade, e parecia inteligente acima daqueles caipiras dali. Ficou tão maluca por ele que no dia seguinte, entrou no quarto dele logo cedo. Absurdo isso, uma moça entrar no quarto de um homem, e um homem que mal conhecida, e com o dobro de sua idade. Se qualquer pessoa descobrisse isso seria um escândalo horrível. Mas não foi qualquer pessoa, foi o pai dela. O pai dela bateu na porta, pedindo para conversar com o forasteiro.
O quarto em que estavam dava para uma lateral onde havia o curral em que dormiam as vacas e onde tiravam o leite delas pela manhã. Era muito alto para ela poder saltar pela janela.  Apavorada pediu que o motorista segurasse um lençol em que ela se dependurou e foi baixando para o curral, mas não foi suficiente e ela teve que saltar. Ao cair, torceu um dos pés e foi mancando que no outro dia foi pra roça plantar milho. Um dos seus irmãos com a enxada fazia a cova, ela jogava os grãos e com o pé empurrava a terra para cobrir as semente. Sofreu dores fortes o dia todo, mas não deu o braço a torcer.
Ainda bem que valeu a pena, porque ele a pediu em casamento e meses depois puderam se casar. Um sujeito bonito, de quem contarei algo mais tarde, bonito mas caipira pé duro, apaixonado por ela, não conseguiu acreditar e ficou escondido atrás de uma árvore para ver se era verdade tal casamento. Coitado, que desilusão!

Arraial do Cabo, RJ, 14 de junho de 2020

Depois de amanhã continuarei.

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