sábado, 16 de setembro de 2017

NÃO TENHO MEDO DA MORTE

Pensando em um poema canção de Gilberto Gil e lembrando-me do meu velho pai, escrevi:

POEMA PROSAICO


Meu pai se foi,
embora tenha adiado esse dia por muito tempo.
Acreditou até que não iria mais.
Certa vez me disse que todos de seu tempo já tinham partido.
“Só eu que não!” Dizia ele com muito orgulho.
Mas como dissera Vieira
não há mais garantia que está perto nossa vez
do que o fato de termos durado muito.

Quando será a minha?
Sim, comigo não será diferente.
Não ficarei para semente.
Só espero que meu trem não demore
e que o maquinista não me esqueça na estação.
Afinal de contas, depois dos setenta
parece-me estar fazendo horas extras
e sempre gostei de ir pra casa cedo.

Se partir sem dor nem conflito
ficarei contente;
já escrevi meus livros,
Já criei meus filhos,
Já plantei muitas árvores,
- várias em quintais alheios -.
Só falta a terra, mãe sempre acolhedora,
 agasalhar-me em seu seio.


Oh, Gaia adorada! Não me deixe virar
uma ruína encarquilhada!
Abraça-me enquanto ainda me sinto homem
e posso possuir-te como se fosse
a última mulher amada.

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