terça-feira, 21 de novembro de 2017

ELEGIA

Quando minha mãe faleceu, minha irmã Alaíde questionou-me por ter feito poema para meu pai, com quem sempre vivia brigando, e nada fizera para minha mãe. Não soube responder, eu mesmo não entendia o porquê, nem mesmo havia pensado no assunto. Minha mãe sempre fora tudo para mim, sinto que tudo que consegui na vida foi por tê-la ouvido e também porque ela acreditava em mim e não gostaria de decepcioná-la.
A pergunta levou-me a pensar em fazer uma elegia, tipo de poema antigo, do tempo da Grécia clássica, marcado por tristeza profunda. Dias depois veio a inspiração:

SALA VAZIA


Minha sala era vazia,
excelente para ginástica e para a gente descansar.
Minha mãe não vinha em casa
porque não tinha, dizia,
um lugar para se sentar.
Eu devia, pelo menos, colocar nela um sofá.

Comprei sofá, poltrona,
tapete, vaso, mesa de centro
e até uma gravura que pendurei na parede.
Minha mãe veio uma vez,
elogiou muito, adorou tudo:
"Está muito bonito!"

Mas nunca mais voltou,
ficou doente e partiu.
Agora não sei o que fazer
com tanta coisa inútil.

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