sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

VOLTANDO AO BOCA DO INFERNO

Em 3 de agosto postei um poema satírico de Gregório de matos e terminei com assim:
 "Usei muito esse poema em palestras e aulas, mas a versão que declamo é um pouco diferente, vou relembrar e colocar outro dia e também contarei um episódio hilário que ocorreu numa palestra para professores do Paraná em Faxinal do Céu,na Universidade de Professores"

Costumo me lembrar do poema desse modo:

Ele é como o sino, tem badalo,
como o pepino, tem sementes,
como o pau de tambor, bate o couro lindamente.
Ele é como fuinha, gosta de cavar as estradas,
e se elas estão tapadas, é com focinhadas
que ele dá de pelejar.

Ele nasceu por entre as pernas,
por isso só nas cavernas
gosta de ter a cabeça.
Como cascavel de Assor,
de carne crua se mantém,
mas nunca lhe ouvirás dizer,
que dessa carne falta tem
e apesar de tão esfaimado
dá leite como um danado
a quem o quiser ordenhar.

 Esse, senhora, a quem sigo 
de tão raras condições é . . . (Certa feita, fui convidado para fazer uma palestra sobre nossa literatura desde a origem até a Semana de Arte Moderna em 1922. Viajei para Curitiba, de lá vieram de carro me pegar e transportar para Faxinal do Céu, onde ficava a Universidade do Professor, hoje extinta. O lugar era lindo, havia um teatro com 500 lugares aproximadamente e como o grupo era de aproximadamente mil professores, eu me apresentaria para uma turma no período da manhã e para outra no período da tarde. A palestra duraria duas horas e meia. Quando o responsável pela minha contratação me entregou o microfone para subir ao palco e iniciar a palestra, disse-me:
- Não pode falar em política,  em sexo, nem dizer palavrão.

Fiquei pasmo, mas não tinha tempo para questionar nada, subi os degraus em estado de choque, porque não tivera tempo para conversar com ele e aquelas eram suas primeiras palavras dirigidas a mim. Fiquei irritado, mas o prazer de falar a tanta gente e todos da minha classe, afastou aquele sentimento ruim e logo eu estava rindo e brincando com as pessoas, fazendo-as rir também. Quando cheguei no século XVII, pensei "vai ser agora, quero só ver como esse cara vai reagir". Passei rapidamente pela prosa de Vieira e fui logo para o satírico Gregório de Matos já com as melhores das intenções. O público já me dera provas de gostar de malícia e rira muito de minhas insinuações. Por isso escolhi esse poema que postei acima, até este trecho:

 Esse, senhora, a quem sigo 
de tão raras condições é . . . (Parei e falei para o público "senhores não posso continuar, porque agora vem palavrão" e olhei para o coordenador lá embaixo, rindo maliciosamente. Os meus ouvintes se puseram a gritar: "fala, fala!" com insistência. Um professor de meia idade levantou-se e ficou no corredor dando pulos e batendo palmas pedindo para eu continuar. Insisti já pronto para retomar o poema:
- Olha que eu falo!
Aí a gritaria cresceu e eu fiz sinal para que parassem que eu iria falar. Fez-se um silêncio que dava para ouvir a respiração ofegante de alguns deles e eu elevei o tom de voz dizendo:

"Esse, senhora, a quem sigo 
de tão raras condições é . . . o caralho de culhões,
das mulheres muito amigo, se pegais na mão, 
vos digo, que haveis de achá-lo sorumbático e mudo (balancei o braço para baixo, relaxado)
mas há de colocar-se a vosso serviço com tudo
(Levantei o braço, duro, para cima, como se desse uma banana)
Eles batiam palmas, gritavam, riam muito e alto. Precisei de alguns minutos para conseguir retomar a palestra.
Quando terminei, era hora do almoço, fomos todos para o restaurante e o coordenador fez questão de me acompanhar o tempo todo. Esperei o momento em que ele me daria a bronca previsível. Mas ele parecia hesitante e só depois do café, quando todos se afastaram e ficamos a sós, ele pareceu ganhar coragem e me disse inesperadamente:
- À tarde, faça igual.

POSTAGEM ANTIGA

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