quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MORADORES DE RUA ou Homeless

A MORADORA DE RUA


Lendo uma matéria sobre moradores de rua, perdi o rumo em uma das linhas e viajei para o passado. Uma lembrança forte tomou conta de mim. 


Não vou conseguir lembrar mês e dia, mas a hora, veio-me à mente com precisão. Eram 6 da manhã. Frio pra caramba. Eu vi uma senhora que se arrumava, parecia ter acordado naquele instante. Foi numa calçada de uma rua próxima ao Parque Antártica. No instante em que a olhei, seu olhar também me distinguiu na massa de veículos que passavam e me sorriu. Ainda tive tempo de corresponder ao sorriso que era meigo, puro, angelical. Pela Dutra afora, fui me lembrando daquela gentileza, simpatia!
Uns dez dias depois, domingo pela manhã, um pouco mais tarde, creio que 7:30, seguia rumo a Dutra. Ao sair da Rebouças, pegando à esquerda com o propósito de seguir pela av. Pacaembu, lembrei-me daquela senhorinha e não resisti, peguei a Dr. Arnaldo, dali pequei a Sumaré e fui para lá com a intenção de parar e conversar com ela. Estaria lá? Me perguntava.
Estava, no mesmo lugar. Parei frente a um bar e pedi que preparassem um pão com manteiga e um pingado para viagem. O senhor do bar perguntou se era para muito longe.
– Não senhor, é para aquela senhora que dorme nessa mesma calçada.
– Ela não toma café e eu não tenho pão.
E preparava-se para jogar o café de volta na cafeteira, quando lhe pedi que fizesse o pingado que eu mesmo o tomaria. Então ele me sugeriu levar um quibe para ela. De quibe ela gostava. Ele me disse.
Foi o que fiz. Quando dela me aproximei e ofereci o salgado, dentro de um saquinho, ela agradeceu timidamente e mais recatada ainda se justificou:
– Vou guardar para comer depois. Estou de jejum. (Lembrei-me de minha avó, Dindinha, que jejuava toda primeira sexta-feira do mês. Dia que, invariavelmente, durante anos, comungava.) Disse-lhe então que não era sexta-feira, mas domingo, e ela explicou-me:
– Jejuar sempre faz bem pra gente!
– Você é religiosa? De que religião?
– Sou evangélica.
Ofereci café, só para ver se confirmava o que dissera o homem do bar. Ela gentilmente recusou e agradeceu. Desejei-lhe boa sorte e segui meu rumo com mil questionamentos a respeito. Minha querida ex-aluna Nancy perguntou se eu concluiria esse texto e a resposta que lhe dei ficará como fechamento dessa história:

Nancy, concordo com você sobre o tempo na internet. Dedique-se mais aos estudos e menos ao mundo virtual. Quanto à moradora de rua, estou com saudades dela. Reli a crônica porque você tocou no assunto e quer saber como vou concluir. O mais importante foi o acontecimento e que as pessoas possam tirar suas próprias conclusões. Por exemplo, pessoas boas, não deixam de ser assim porque a vida lhes retira os bens materiais. Assim como pessoas ruins, geralmente, não se tornam boas quando sofrem perdas radicais. Quando puder, veja o filme "Ensaio sobre a cegueira".

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