sábado, 25 de outubro de 2014
ANSIEDADE E HUMILDADE
O Dalai Lama quando questionado sobre seu modo de lidar com a ansiedade, deu uma grande lição de humildade e sabedoria, colocando como exemplo sua ansiedade antes de uma palestra a fazer: "Creio ter a honestidade e a motivação adequada é o segredo para superar esses tipos de medo e ansiedade. Portanto, se estou ansioso antes de uma palestra, costumo me lembrar de que a razão principal, o objetivo de proferir a conferência, é o de pelo menos trazer algum benefício às pessoas, não o de exibir meu conhecimento. Portanto, aqueles pontos que conheço eu me disponho a explicar. Aqueles que não entendo perfeitamente... não fazem diferença. Digo apenas que para mim aquilo é difícil. Não há nenhum motivo para esconder nada, nem para fingir. Com esse ponto de vista, com essa motivação, não preciso me preocupar quanto a parecer bobo ou me incomodar com o que outros pensem de mim. Descobri, portanto, que a motivação sincera atua como um antídoto para reduzir o medo e a ansiedade." (p. 305 de A Arte da Felicidade)
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Significado de Paquetá e Guaratinguetá em tupi.
Na postagem anterior falei sobre alguns termos em tupi. Logo me apareceram algumas perguntas. Engraçado, sempre sobre cidades. Itanhaém, por exemplo, perguntaram porque notaram o ita que significa pedra, e querem saber o nhaém, o que é. Bem, significa prato e semelhante ao inglês, o tupi inverte os termos nesse caso, em vez de dizer "prato de pedra", apenas inverte e junta os termos "ita + nhaem", daí: Itanhaém.
Guaratinguetá apresenta uma terminação bastante comum em vários outros nomes de lugares, etá, que significa muito. Exemplo: Paquetá, resulta da fusão de paca + etá, logo o lugar devia ter muitas pacas no passado. Tinga é branco e guyra é ave, pássaro, logo devemos concluir que em Guaratinguetá as garças eram abundantes.
Guaratinguetá apresenta uma terminação bastante comum em vários outros nomes de lugares, etá, que significa muito. Exemplo: Paquetá, resulta da fusão de paca + etá, logo o lugar devia ter muitas pacas no passado. Tinga é branco e guyra é ave, pássaro, logo devemos concluir que em Guaratinguetá as garças eram abundantes.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Significado de Itanhangá e Ipanema
Encontrei alguns equívocos em sites e blogs, por isso resolvi esclarecer aqui algumas coisas. Em vários sítios encontrei explicações que diziam, "é termo tupi-guarani", isso não existe, pelo menos foi o que aprendi com o prof. Eduardo Navarro, quando frequentei seu curso na USP (como ouvinte). Ou é tupi ou é guarani, como há o espanhol e há o português. Então, em tupi, i é rio ou água, daí que piraí, significa rio do peixe. Pira é peixe, então piracaia é peixe queimado. Em i + panema, o encontro forma "água fedida ou podre" como significado. O segundo termo funciona como adjetivo, uma característica do termo anterior. Então, itanhangá não poderia significar espírito de pedra, como vi em um dos lugares que procurava explicar o significado do termo. Ita é pedra e anhangá é um espírito da floresta (em um sítio encontrei diabo como significado, absurdo, os índios não tinham a noção dessa figura); então um sentido mais próximo da nossa cultura itanhangá seria "pedra viva", revelando a percepção de determinada pedra como dotada de alma, de espírito. Mais algumas palavras de que me lembro rapidamente: itaúna, pedra preta; ibiuna, terra preta; iúna, água preta; iguape, de i = rio + gua = enseada + pe = preposição em, o que deve ser traduzido como "na enseada do rio".
terça-feira, 21 de outubro de 2014
UM GAÚCHO DE PERNAMBUCO? EM ARRAIAL DO CABO?
O GAÚCHO DE PERNAMBUCA
(Está incluso no livro A VIDA QUE EU VI publicado pela Agbook.)
Você conheceu o gaúcho da
Pernambuca? Não, da Pernambuca mesmo. Não é de Pernambuco, já
imaginou que gozado; um gaúcho de Pernambuco? Nada disso, era daqui
da praia de Pernambuca, na divisa de Arraial com Araruama. Falei era
daqui, por falar, ele apareceu, assim, do nada, um dia apareceu
pedindo comida na casa da Rose, essa que trabalha aqui com a gente na
pousada. Ela diz que ele nunca falou do passado dele, nem as outras
pessoas que conheciam ele, ninguém nunca soube de onde ele veio, nem o
que fazia antes. Aqui, ele pedia. Era um pedinte. Mas pedia com educação, com humildade.
Era gentil, engraçado. Vez em quando trabalhava em coisa simples
como cortar uma grama, ajudar alguém a cavar um buraco, um alicerce.
Bebia, mas não de cair na rua ou fazer vexame.
A Rose diz que a primeira vez que ele apareceu no portão dela, fez
figura, falando com educação:
- Minha senhora, desculpe-me se a incomodo, mas estou com fome e
gostaria de lhe pedir para me arrumar alguma coisinha para comer.
- Entra, vem comer com a gente.
Parece que até esse dia ninguém tinha convidado ele para entrar,
sentar na mesa com a família. Então, ele acabou voltando mais vezes
e depois ficava conversando como se fosse um velho amigo da casa.
Costumava ajudar em alguma coisa, teve um dia que ele até levantou
antes da mesa, antes dos outros terminarem, e lavou toda a louça,
assim, naturalmente, conversando, como se fosse um costume dele.
Aconteceu um dia, de ele aparecer e a Rose ficar sem jeito,
aborrecida, porque não tinham qualquer mistura em casa. E quando
falou isso para ele, ficou ofendido, protestando que que ela estava
pensando dele, que era como eles, que se eles iam comer sem mistura,
ele também comeria porque ele não era ninguém especial, não era
mais do que eles, que bobagem é essa, ele falou. Então ela pôs
comida para ele que comeu tudo e quando terminou, elogiou:
- Que feijão com arroz mais gostoso! Comidinha boa assim, nem faz
falta de mistura.
Várias semanas depois disso, a coisa ficou preta pra eles. O marido
dela quebrou a perna jogando bola num domingo e ficou sem trabalhar
uns dias. Ela precisou gastar com remédio para um filho que ficou
muito doente. Até que certo dia, comeram o resto do que havia em
casa e ficaram sem nada, mas nada mesmo para comer. Ela até desligou
a geladeira depois que ficou vazia. E foi nesse dia que apareceu mais
uma vez o gaúcho. Nessa época, ele já não chamava mais no portão,
entrava direto. Quando Rose viu ele na cozinha, porque a casa dela
não tinha sala, a cozinha servia de sala-copa e cozinha, então,
como eu dizia, quando ela viu ele, ficou muito triste e a cara dela
não engana ninguém, o que ela sente fica na cara. Se ela tá bem,
você olha, vê ela sempre risonha, com aquele bocão escancarado. Se
está ruim, não há jeito dela rir, de jeito nenhum. Então o gaúcho
olhou para a cara dela e viu logo que a coisa não estava boa.
Perguntou e ela falou:
- Hoje tá difícil. Ele de um movimento rápido e natural abriu a
geladeira e fechou.
- Puxa vida, não tem nada mesmo!
Só falou isso e saiu imediatamente sem nem mesmo dizer tchau. A
Rose não achou estranho, não pensou nada a respeito do gesto dele.
Eu, quando ela me contou, achei que ele foi um ingrato, quando havia
comida ele ficava, conversava, agora, numa hora dessa, será que ele
não podia conversar um pouco? Não é? Isso, distrair ela um
pouquinho. Mas não era nada disso não, umas duas horas depois, ou
pouco mais, voltava o gaúcho com uma senhora e os dois, em cada mão,
traziam uma sacola, cheia de alimentos e ainda duas quentinhas
cheirosas. A Rose virou uma cachoeira de tanto chorar.
A Rose continua trabalhando aqui. Ele não, morreu. Ah! Não sei lhe
dizer não. Só sei que o gaúcho morreu.
Geraldo Chacon
sábado, 18 de outubro de 2014
PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL
LÍNGUA
BRASILEIRA OU PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL?
Durante a semana
alguém manifestou seu desejo que denominássemos nossa língua de
brasileira e não de portuguesa. Nao hora disse-lhe que não via
motivo para isso, mas não argumentei, nem desenvolvi o assunto, por
falta de tempo. O problema, no entanto, ficou dando voltas na minha
cabeça como um besouro inoportuno.
Não foi a
primeira pessoa que me disse isso e lembro-me vagamente de, no
passado, já ter também pensado dessa maneira. É óbvio que nos
orgulhamos do nosso idioma e olhamos para ele com certa vaidade e
satisfação por saber que ele foi enriquecido pela língua dos
índios, dos africanos, italianos e tantos outros povos com seus
idiomas característicos. Claro que não podemos deixar de lembrar as
mudanças que nós mesmos vamos proporcionando a cada dia, quase sem
perceber, e quando damos conta, a linguagem dos nossos filhos já
ficou muito distante da que falavam nossos queridos avós. Isso é
fatal, irreversível e não há como impedir.
Veio-me à
lembrança uma mudança que acompanhou a minha existência desde
1970, quando me preparava para fazer o vestibular da FUVEST. Uma de
minhas professores, disse que a palavra aperitivo no português
arcaico, ainda em formação, significava purgante. Aconteceu um dia,
dizia ela, que um sujeito foi tomar uma bagaceira, quer dizer, uma
cachaça lá dos ibéricos, e fez uma careta quando enguliu, comeu
logo um torresminho para tirar aquele gosto ruim, e reclamou:
- Que horror,
que aperitivo é esse que tu me deste, ô Manuel?
Todos se riram e
daquele momento em diante, vários passaram a pedir um trago com o
novo nome: “Ô Manuel, dá-me um aperitivo daqueles teus!” E a
moda pegou. Explicava nossa mestra, que o portuga tinha feito uma
comparação entre as duas situações, ele estava tomando algo de
gosto forte, desagradável, de barriga vazia, assim como quem tomava
purgante. Nas duas situações, costumava-se dar uma cuspida e comer
logo algo por cima, para tirar o gosto ruim.
Em menos de dez
anos, creio que foi em 1976, estava eu na casa de uma família,
esperando pelo almoço para o qual tinha sido convidado. Estava com
uma fome de cão abandonado. Lá da cozinha, vinham os sons de vozes
e ruídos de panelas e tampas e outros acessórios da arte culinária.
Em dado momento, a gentil dona da cssa foi ver como eu estava e
perguntou se eu não queria um aperitiva. Fui bastante franco, porque
agora chegava também, até meu nariz, o aroma da comida em
preparação. Joguei verde:
- Não, muito
obrigado. Eu não posso beber nada assim, de barriga vazia, fico
bêbado em poucos minutos.
- Não, não é
bebida, não! São uns queijinhos, torradinhas, coisas assim para
enganar a fome até o almoço ficar pronto.
Claro que aceitei
e comi tanto que depois almocei só para fazer companhia e jus ao
convite. A partir dali, incorporei que aperitivo não era mais apenas
líquido alcoólico que se bebe antes da refeição, com desculpe
para abrair o apetite. Daquele momento em diante, aperitivo era
qualquer bebida ou alimento sólido que se toma antes da refeição
principal. Se tivéssemos o interesse e a paciência de Guimarães
Rosa, poderíamos fazer uma pesquisa e levantar uma porção de
palavras que tiveram seu significado ampliado ou totalmente alterado
pelos nossos compatriotas.
Outra coisa de
que nos orgulhamos é da riqueza de nossa língua. Um amigo meu, José
de Alencar, calma, não aquele, o escritor, que não sou tão velho
assim. Alencar é um paulista de cuja amizade pude privar desde os
quinze anos. Ele ficou indignado certa vez, numa palestra na
Biblioteca Mário de Andrade, ao ouvir um francês comparar e dizer
que a língua francesa era mais rica do que a nossa. Alencar ficou
furibundo porque, assim como nosso romântico escritor, amava o nosso
idioma, especificamente o português falado no Brasil. Eu me lembrei
disso imediatamente ao escrever “queijinhos” alí em cima.
Recordei porque o meu amigo então pediu ao palestrante que
traduzisse algo como “uma cazinha”, quando o francês fez a
tradução literal, Alencar protestou:
- Não senhor,
eu não lhe disse “uma pequena casa” nem “uma casa pequena”,
mas uma casinha.
É natural que o
francês não tenha entendido. Quando eu digo: “ontem conheci uma
velhinha”, não estou dizendo que a mulher era pequena, mas que era
bem velha mesmo, ou então que era uma velha muito simpática e eu
fiquei querendo um bem muito grande a ela. Muitas vezes empregamos o
diminutivo para expressar nosso carinho. Por isso, quando digo minha
casinha está às suas ordens, os convidados não se espantam ao
encontrar um casa com quatro quartos, sala ampla, cozinha muito
grande. Constatam o carinho que sinto por ela e, também, podem notar
aí um pouco de falsa modéstia. Isso também faz parte de nossa
cultura.
Não estou agindo
cientificamente, nem era essa minha intenção, mas raciocinando como
pessoa comum e não como professor. Quero apenas argumentar e
convencer a quem pensa como a pessoa que me fez ter esses
pensamentos, que tudo isso não justifica criar uma nova denominação
para o idioma português. É e será sempre o português falado no
Brasil, assim como o inglês falado nos Estados Unidos, na Austrália,
ou o francês falado no Canadá e nos países colonizados pela
França. Como diria meu amigo Paquale: “É isso aí”.
Geraldo Chacon
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Vitorino Carriço e Arraial do Cabo
CONVERSA
COM VITORINO
Meu
caro Vitorino, venho
aqui como um garoto,
como
se fosse um menino, para
de ti receber instrução.
Foi
por isso que com alegria saí
bem cedo, logo de manhã,
e
vim para sua casa, hoje
denominada da poesia.
dei
uma volta pela prainha,
depois
fui ainda mais longe,
caminhei
até a Praia dos Anjos,
mas
finalmente ganhei coragem
e
aqui entrei resoluto
e
estou firme, decidido.
Sei
que perto de ti não sou nada, apenas um aspirante,
um
novato atrevido, mas veja meu coração,
perceba
minha sinceridade
ao
expor minha fraqueza.
Só
quero aprender contigo a beleza de fazer versos,
de
dizer coisas boas, de agradar às pessoas,
de
captar a alma da poesia.
Não,
por favor, não se afaste de mim,
não
fique irritadiço
porque
isso não combina com seu nome,
quer
dizer, sobrenome.
Dê-me
a mão, faça-me companhia.
Agora
há pouco, seu neto passou pela janela,
estava
tão apressado o Júnior, nem nos viu.
Por
favor, não seja severo, não me olhe assim,
porque
eu, sabe, sou inseguro.
Sinto-me
um tanto pateta,
um
tonto, mas no fundo, eu sei,
que
tenho alma de poeta
e
às vezes, como você,
sinto
uma ânsia insaciável
de
amor e de amizade.
Assim
como você, não desejo mais utopia
nem
ser um rico nababo.
Só
quero compor algo popular, singelo.
Talvez
não tenha sido por acaso
Que
tenha me ordenado o Fado
vir
viver em Arraial do Cabo.
Geraldo
Chacon
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
ANGLO, CURSO APROVE E COLÉGIO BANDEIRANTES
Creio que jamais conseguiria decidir em qual das escolas acima eu tive maior prazer em lecionar. Se deixar de lado distinções como salário, plano de saúde, e levar em conta apenas a aceitação e o carinho dos alunos, não consigo mesmo resolver. Jamais em outras situações tive alunos tão bons, tão dedicados, tão respeitosos, amáveis, colaboradores, estudiosos. Eu dizia sempre para os do colégio que vivia pedindo a Deus que se tivesse que lecionar no céu, depois de finar, só o faria se houvesse salas com o mesmo tipo de alunos. Já no Aprove, cursinho para alunos das classes mais necessitadas, eu desbocadamente dizia que era puta, que dava aula em outras escolas pelo bom salário, mas que ali não, ali no Aprove eu dava quase de graça, dava por amor; aulas, é claro. Estou recordando isso porque acabo de abrir um velho livro que há muito não relia, nem consultava e descobri esse bilhete de uma aluna de Mogi das Cruzes:
Que alegria! Meus olhos transbordaram em cachoeira silenciosa e eu nem consigo lembrar do rosto dessa tão doce Bianca. Bianca, me perdoe, memória fraca, mas garanto que olho esse bilhete e me encho de carinho por você e torço para que um dia a gente possa de novo se ver e darmos um abraço apertado. A essa altura você já deve ser uma profissional realizada, semeando essa sua simpatia por todos que têm a sorte de viver próximos de você. A você e a todos meus amáveis alunos do Band, Anglo e do Aprove, um saudoso abraço. Minha vontade era prender todos aqui bem perto de mim.
domingo, 5 de outubro de 2014
POR QUE separadamente
Faz algum tempo, comentei aqui alguns erros na internet e outro dia abordei a questão do emprego de porque e por que. Expliquei que quando se trata de pergunta, deve ser registrado separadamente. Agora mesmo vi um vídeo no Face em que aparece essa frase: "Sabe porque?". Deveria estar separado, por se tratar de pergunta.
Creio que na ocasião em que escrevi, não comentei que mesmo sendo a pergunta indireta, isto é, sem uso do ponto de interrogação, também deve ficar separado. Exemplos: Não sei por que a mulher é considerada sexo frágil. Gostaria de saber por que você gasta tanto tempo na rede e não dedica pelo menos alguns minutos ao estudo da gramática.
E quando o sintagma está no final da frase, colocando acento mais forte na última sílaba, devemos acentuar graficamente também: "Você fez isso comigo por quê?"
E quando o sintagma está no final da frase, colocando acento mais forte na última sílaba, devemos acentuar graficamente também: "Você fez isso comigo por quê?"
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
POESIA ÉPICA E DRAMÁTICA - BIBLIOTECA DE ARARUAMA
Venha participar da segunda palestra, 09/10/2014, do ciclo BATE PAPO LITERÁRIO, com início às 17 horas, na Biblioteca de Araruama. Nesse segundo encontro abordarei os gêneros literários ÉPICO e DRAMÁTICO, ilustrando com poemas de Camões, Gil Vicente, Oduvaldo Vianna, e texto de minha autoria. Sintam-se convidados e levem os amigos.
sábado, 27 de setembro de 2014
PORQUE e POR QUE, junto ou separado?
Você costuma ter dúvidas ao escrever "porque"? Sem muita teoria, guarde a seguinte informação; toda vez que escrever uma pergunta, escreva separadamente: "Por que você sempre me aborrece?".
Já ao registrar uma resposta, uma afirmação, coloque um termo só: "Aborreço porque você é muito chato!" "Eu digo sempre a verdade, porque mentir dá muito trabalho."
Veja que em "Esse é o ideal por que luto" ou ainda em "Nunca esqueci os problemas por que passei" não se trata de pergunta e resposta, mas outra situação. Sem usar gramatiquês, pense essas frases como se fossem assim: "Esse é o ideal pelo qual luto" e "Nunca esqueci os problemas pelos quais passei", logo precisa ficar separado "por que" porque se trata de duas palavras, independentes. Ajudou?
Já ao registrar uma resposta, uma afirmação, coloque um termo só: "Aborreço porque você é muito chato!" "Eu digo sempre a verdade, porque mentir dá muito trabalho."
Veja que em "Esse é o ideal por que luto" ou ainda em "Nunca esqueci os problemas por que passei" não se trata de pergunta e resposta, mas outra situação. Sem usar gramatiquês, pense essas frases como se fossem assim: "Esse é o ideal pelo qual luto" e "Nunca esqueci os problemas pelos quais passei", logo precisa ficar separado "por que" porque se trata de duas palavras, independentes. Ajudou?
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
ANTÍTESE E PARADOXO
Um amigo pediu-me para explicar a diferença entre essas duas figuras de linguagem, mas nem vou dizer nada, para ele e quem mais precisar dessa informação vou remeter diretamente para quem já fez isso: http://www.estudopratico.com.br/diferenca-entre-antitese-e-paradoxo/
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
ALITERAÇÃO
Pediram-me para explicar o que é aliteração, pois aí vai. Aliteração é uma figura de linguagem que enriquece o texto. É muito empregada pelos poetas e pelos compositores da MPB que conhecem bem a nossa língua. Consiste na repetição proposital de fonemas (sons) consonantais, veja esses exemplos:
Pedro pedreiro penseiro. Toda gente homenageia Januária na janela. (Chico Buarque)
Não importa a letra (grafia) como g/j ou c/ç/ss, mas apenas a sonoridade idêntica.
Vida, vento, vela, leva-me daqui... (creio que é de Belchior)
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos... (Castro Alves)
O poeta dos escravos foi muito feliz ao empregar essa aliteração, conferindo grande sensualidade, como que projetando sobre a luz da lâmpada o desejo do amante de lamber todas as curvas da mulher amada.
Troe e retroe a trompa. (Gonçalves Dias)
Em um poema procurei fazer uso desse recurso:
AMADOR
A ponte aponta um ponto no horizonte.
Aponte o meu coração,
aperte o gatilho,
pouse em meu quarto;
parto de amor não dói.
Pedro pedreiro penseiro. Toda gente homenageia Januária na janela. (Chico Buarque)
Não importa a letra (grafia) como g/j ou c/ç/ss, mas apenas a sonoridade idêntica.
Vida, vento, vela, leva-me daqui... (creio que é de Belchior)
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos... (Castro Alves)
O poeta dos escravos foi muito feliz ao empregar essa aliteração, conferindo grande sensualidade, como que projetando sobre a luz da lâmpada o desejo do amante de lamber todas as curvas da mulher amada.
Troe e retroe a trompa. (Gonçalves Dias)
AMADOR
A ponte aponta um ponto no horizonte.
Aponte o meu coração,
aperte o gatilho,
pouse em meu quarto;
parto de amor não dói.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Ray Charles tocando sax
http://www.jazzonthetube.com/videos/ray-charles/alto-instrumental.html
Sempre ouvi Ray Charles cantar, essa foi a primeira vez que encontrei um vídeo com ele fazendo música instrumental. Veja.
Sempre ouvi Ray Charles cantar, essa foi a primeira vez que encontrei um vídeo com ele fazendo música instrumental. Veja.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
ALMEIDA GARRETT e Viagens na minha terra
O livro VIAGENS NA MINHA TERRA, de Garrett, foi um marco importante para o Romantismo tanto em Portugal quanto no Brasil, por ter rompido com os padrões da literatura tradicional, criando uma nova maneira de compor o texto e dialogar com seu leitor. Embora não tenha encontrado em Machado de Assis uma confissão clara, vejo nele muita influência do escritor lusitano. Procure ler a obra integral e para aguçar seu desejo vou traçar em poucas linhas do que se trata. Note, não é um romance, mas o relato crítico de uma viagem e de um tempo, onde se insere uma narrativa novelesca que se encaixa no quadro geral com perfeição.
RESUMO DO ENREDO
Conta, o narrador,
uma viagem que faz de Lisboa a Santarém e uma história, “A menina
dos rouxinóis”, que aconteceu no vale de Santarém. Inicialmente
aparece uma velha cega, assistida pela neta, Joaninha. Em seguida,
sabemos que há um misterioso frei Dinis, que frequenta a casa delas,
toda sexta-feira. Então, quase simultaneamente, descobrimos que há
um neto, Carlos, ausente. Os pais de ambos já morreram, estão os
dois órfãos de pais e mães.
Depois, ficamos
sabendo que o frei, era um frequentador da casa e amante da filha de
dona Francisca, em quem gerou um filho. O marido traído e o cunhado
armaram uma cilada para o amante, mas foram mortos por ele, que
arrependido entra para a ordem dos franciscanos. A adúltera ouve do
amante a revelação da trágica morte do marido e não o perdoa,
chorando até a morte, que se dá por ocasião do nascimento da
criança: Carlos, que cresce sob os cuidados da avó, até quando
descobre parte da história e se vai de casa. Quando é ferido nos
combates entre liberais e miguelistas, Carlos fica sabendo toda a
verdade e mais uma vez foge. Joaninha, que nesses capítulos finais,
descobre os outros amores de seu primo, enlouquece e morre.
domingo, 14 de setembro de 2014
Janis Joplin no Brasil
MIM TARZAN
Não, não fumo
mais. Não. Nem um, nem outro. Parei de fumar faz tempo. Foi também
quando decidi nunca mais falar inglês. Foi na mesma época. Foi por causa de uma mulher.
Muito louca. Devia ter bebido todas. Eu estava na praia, na praia, é, lá no Rio. A moça foi chegando, sorrindo, maliciosa e
com voz rouca, falando gringo, perguntou pediu se eu não tinha um.
Falei emburrado que tinha, mas tava guardando pra fumar depois,
quando fosse dormir. Ela não se deu por satisfeita, não foi embora,
pelo contrário, chegou junto, encostou, passou o braço por cima do
meu ombro e me deu uma mordiscada na orelha. Riu. E rindo disse que o
meu inglês era ruim que nem meu coração. Em seguida, me deu o
maior chupão no pescoço e enfiou a outra mão por dentro da camisa
e encheu a mão com meus pelos. Falou que meu coração era frio, mas
meu peito era quente. Falou que queria muito dar um bola, mas já que
não havia jeito, então ia fazer outra coisa, e foi levando a mão
por dentro do meu calção e catou meu pênis que já tava meio mastro.
Eu fiquei quieto só pra ver até onde ela ia chegar. Ela envolveu
com a mão e senti meu sexo pulsar dentro da mão dela e começou a
inchar mais rápido. Ela riu muito e disse que ele era big e tava
mais quente que meu peito. Ela puxou com força o calção para baixo
e deitou-se no meu colo, cobrindo meu sexo de beijos e lambidas.
Disse qualquer coisa que eu não consegui entender e encheu a boca
com ele, ficou chupando não sei dizer quanto tempo e eu fazendo uma
força danada pra não gozar logo, queria ficar sentindo aquilo mais
tempo. Tava muuiiito bom. Acho que ela sentiu que eu ia gozar e
parou. Parou seco e com uma das mãos, usando apenas o polegar e o
indicador, ela enforcou meu brinquedo preferido abaixo da glande, é, da cabeça.
Ficou apertando e a vontade de gozar passou. Acho que se ela não
fizesse isso eu iria gozar, mesmo depois de ela ter parado.
Ah! Foiii .. pera
aí, deixa eu ver, tenho 63 anos, naquele ano eu estava com dezoito,
então foi em 1970. Não, a praia não estava toda deserta.
Praia no Rio, em tempo de carnaval, é difícil ficar deserta, mas passava gente longe e nem
prestava atenção em nós. Acho que muita gente estava nas
brincadeiras e folias. Deixa eu terminar.
Eu já tinha
deixado cair todo meu aborrecimento, estava desarmado, relaxado, quer
dizer, quase, porque o tesão tava a mil e aí não se fica muito
relaxado não, mas não estava mais irritado por ela ter vindo me
tirar do meu sossego. Queria que ela continuasse. E ela continuou.
Vendo que eu já estava mudado, porque minha mão já estava alisando
as costas dela, ela levantou e começou a me beijar. Beijamo-nos
muito tempo e eu passei a mão pelos peitos delas. Descarada que só
ela, não ligava para nada. Chegou uma hora lá que ela arrancou meu
calção e atirou pro lado. Parece-me que ela xingou
qualquer coisa, em inglês, empurrou meu peito me deitando, depois deu uma
cusparada na mão, espalhou pelo meu sexo e sentou nele com tudo. Aí,
ficou brincando de cavalinho, subindo e descendo, mas não depressa,
devagar, e dizia qualquer coisa como hot, big, e gemia. Depois,
deixou-se pesar sobre meu corpo e passou a fazer movimentos
esfregando-se em mim, para frente, para trás, para frente e para
trás. Ficou assim um tempão, depois continuou mas fazendo movimento
de um lado para o outro, aí levantava e abaixava e variava os
movimentos. Chegou uma hora que a respiração dela mudou, ficou
alterada, então ela se deitou toda em cima de mim, ficou me
beijando. Senti que ela esticou e juntou as pernas apertando uma
contra a outra, apertava e relaxava, e de novo, gemendo, e ficou
fazendo assim até que gozou. Gritou e eu fiquei preocupado, foi, aí
só é que eu pensei no que tava fazendo. Alguém podia aparecer e
sei lá, podia ser linchado, pô, mas ela tinha gozado e eu não. Não
podia deixar barato, nada disso, virei de modo que ela rolou na areia
e do mesmo jeito que ela tava, eu só dei um balanço assim, ó, de
modo que ela ficou deitada de lado na areia, de costas para mim,
então foi só eu encostar naquela bundinha dela, penetrar fácil porque estava toda molhada mesmo, e aí fui eu que fiquei no vaievem até gozar.
Dei uma mordida na nuca dela quando gozei e ela dizia bom, bom, muito
bom.
Ficamos muito
tempo deitados, um ao lado do outro, olhando as estrelas. Eu
acariciava o rosto dela e percebia uma porção de espinhas, isso,
acne. Nome fresco e chique pra espinha. Para mim, não tem jeito, é
espinha mesmo e pronto. Por todos os lados, então, eu ouvia som das
músicas de carnaval. Antes eu não estava ouvindo nada. Ah, sim,
antes dela aparecer eu ouvia, estava curtindo. Gosto de ficar
isolado, prestando atenção nos sons, na mistura deles, música,
gritos, rojões, buzinas. Essa agitação parece vida e até pode
ser, mas pode ser ilusão. No meio dessa alegria, há bastante
tristeza esprimida. Então, acabou besta, bestamente, teve uma hora
lá que ela sentou, ficou triste, chorou um pouco. Eu pensei logo,
vai me pedir dinheiro, aposto. Mas não, entendi mais ou menos que
ela tinha sido expulsa do hotel e ia dormir num quartinho de um cara,
acho que amigo, tinha oferecido. Eu não podia fazer nada, se levasse
para minha casa, meus pais me matavam. Então, como eu não falava
nada, ela disse que tinha que ir e ao se despedir me disse como se
estivesse tentando falar português, ou... sei lá, sei que entendi
ela dizer “mim Jane”. Não perdi a chance, respondi rápido para
ela, em cima da pinta, “mim Tarzan”.
Depois que ela se foi é que
eu vi como tinha sido burro e ingrato. Burro porque podia ter ido com
ela, para saber onde ia ficar. Ingrato porque podia ter dado meu
cigarrinho para ela, que tinha me dado tanto prazer. Uns três dias
depois, por acaso, porque eu não leio jornal, peguei um jornal pra
ler no meu barbeiro e vi uma notícia de cantora americana
encrenqueira que tinha aprontado nas casas noturnas. Eu tinha
transado com Janis Joplin.
Geraldo Chacon
sábado, 13 de setembro de 2014
AMOR E BELEZA
Quanto a arte da poesia se encontra com a música e cria clima de magia, a alma suspira e voa. Poema do falecido Ivan Junqueira e a música de Denise Emmer. As imagens assim como a qualidade delas tiraram-me o fôlego.
http://youtu.be/9Vz8c6qSJE4
Antonico, de Ismael Silva - erros de gramática na MPB
Antes de falar sobre a canção “Antonico” do compositor Ismael Silva, quero explicar a palavra viração e a ordem das palavras nas frases. Em um texto, tanto você pode empregar a ordem direta quanto indireta. Viração pode significar ajuda, uma força, colaboração, proteção. Por exemplo: O Nestor precisa de uma viração. Quer dizer, precisa de uma ajuda, de uma força. Quando dizemos algo, podemos fazer basicamente de duas maneiras. Exemplo: “Eu gosto de feijão com arroz” (essa é a ordem direta, mais natural, porque mais empregada) ou “de feijão com arroz eu gosto” (agora colocamos na ordem indireta). Outro exemplo: Fazer o recenseamento do país é necessário. (empregamos a ordem direta, agora vamos colocar na ordem indireta:) “É necessário fazer o recenseamento do país”. Quando usamos a ordem indireta, costumamos distrar-nos e cometer erros de concordância. Agora leia parte da letra e veja se nota o erro.
Ôh
Antonico. Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Essa
canção é como que um bilhete que alguém está escrevendo para o
amigo Antonico, pedindo-lhe uma ajuda para o amigo Nestor. Ele diz
que: “é
necessário
uma
viração pro Nestor”
o correto seria dizer “é
necessária
uma
viração pro Nestor”.
Se dissermos, na ordem direta, que “uma
viração é necessária”,
fica mais evidente a forma correta. Alguma coisa é necessária,
alguma ajuda é necessária. Sempre no feminino, necessária,
concordando com o sujeito. Somente ficaria no masculino “necessário”,
se o sujeito fosse masculino, como: “É
necessário seu parecer”,
ou, “É
necessário seu comparecimento”.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Biografia do autor de "Memórias de um Sargento de Milícias".
Curta a curta biografia de:
Manuel
Antônio de Almeida
BIOGRAFIA
Manuel
Antônio de Almeida, filho de portugueses pobres, nasceu no Rio de
Janeiro a 17 de novembro de 1831. Almeida ficou órfão de pai aos
dez anos de idade, tendo conhecido bem a pequena classe média urbana
carioca que mais tarde retrataria em seu único romance. Estudou no
Colégio São Pedro de Alcântara e fez um curso de desenho da
Escola de Belas Artes. Formou-se em medicina no ano de 1855. Para
Sobreviver, Almeida desde cedo trabalhou no jornal o Correio
Mercantil, ora como revisor
ora como redator. Nesse mesmo periódico publicou as Memórias
de um sargento de milícias,
de 27 de junho de 1852 a 31 de julho de 1853. Almeida não assinou a
obra, mas usou o pseudônimo “um brasileiro”. O autor ainda não
tinha completado 22 anos. Em 1858, Almeida ingressou como
administrador na Tipografia Nacional, onde trabalhava o aprendiz de
tipógrafo Machado de Assis, na época com 19 anos. No ano seguinte,
Almeida foi promovido a Segundo Oficial da Secretaria dos Negócios
da Fazenda.
Morreu
num naufrágio a 28 de novembro de 1861, quando iniciava sua carreira
política.
Somente
após a morte, ficou consagrado por seu único romance: Memórias
de um sargento de milícias,
cuja publicação no século XIX não trazia o nome do autor.
Posteriormente, a obra foi reeditada em dois volumes (1854-1855), com
alterações na ordem dos capítulos e assinado por “Um
Brasileiro”. Depois disso a obra caiu no esquecimento e só muito
mais tarde, no período do Modernismo, passou a ser valorizada.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
JORGE AMADO
Uma curta biografia e lista de suas obras:
JORGE
AMADO
Jorge
Amado de Faria nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia
(município de Itabuna Bahia). Seu pai era comerciante em Sergipe,
mas chegou a possuir terras na região do cacau (sul da Bahia). Amado
fez o curso primário em Ilhéus, onde passou a infância. Aos onze
anos, transferiu-se para Salvador com a finalidade de realizar os
estudos secundários em um colégio jesuíta, onde conheceu o padre
Cabral, pessoa de capital importância na formação do escritor
devido à sua erudição.
Em
1931 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde posteriormente
forma-se em Direito e inicia-se na política. Foi muito significativa
sua militância na esquerda brasileira, vários de seus livros são
dedicados a Luís Carlos Prestes, líder comunista brasileiro. Além
de sua vivência nos centros urbanos, Jorge Amado viaja várias vezes
pelo interior da Bahia e Sergipe e busca sempre transpor essa
vivência e os conhecimentos aí adquiridos para sua produção
literária como em: Cacau,
Jubiabá, Mar Morto e Capitães de Areia.
Ainda
no decênio de 30, conhece a América Latina e vê seus romances
serem traduzidos para diversos idiomas. Entre 1936 e 37 ficou detido
por opor-se ao Estado Novo, esteve exilado na Argentina de 1941 a
1943. Após a II Guerra, é eleito deputado pelo PCB, mas parte em
exílio voluntário com o fechamento do partido. De 1948 a 1952 viaja
pela Europa e Ásia. De volta à pátria, dá continuidade à
produção literária, dando a esta o acento da ambientação
regional, com um estilo menos polêmico e linguagem mais elaborada.
Em 1959 é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em
agosto de 2001. Sua obra prima foi, sem sombra de dúvida, Os
Velhos
Marinheiros,
que contém duas excelentes novelas, dotadas de muito humor.
BIBLIOGRAFIA
Em
matéria de romances publicou: O
País do Carnaval (1931);
Cacau
(1933);
Suor
(1934);
Jubiabá (1935);
Mar Morto (1936);
Capitães da Areia (1937);
Terras do Sem-Fim
(1942);
São Jorge dos Ilhéus (1944);
Seara Vermelha (1946);
Os Subterrâneos da Liberdade
(1952);
Gabriela, Cravo e Canela (1958);
Os Velhos Marinheiros (1961);
Os Pastores da noite (1964);
Dona flor e seus dois Maridos (1966);
Tenda dos Milagres (1969);
Teresa Batista Cansada de Guerra (1972);
Tieta do Agreste (1977),
Descoberta
da América pelos turcos,
além de teatro e poesia.
Para mim, sua melhor realização são as duas novelas que formam Velhos Marinheiros, que gravaram fundo em mim o Vasco Moscoso Aragão e o incrível Quincas Berro D'água. Inesquecíveis personagens, muito bem construídos. O seu último livro, Descoberta da América pelos turcos, agradou-me imensamente, embora não veja na obra uma grande construção artística. Mesmo assim, é um livro leve e agradável que sempre recomendo aos meus amigos.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Conto erótico
BILITA
Eu num sô nada... nada só... titiquinha
de nada rodando, sonhando num mundo sozinha. Cachorrinha perdida no mato sem
caçadô. Mãe nunca tive. Pai num tive. Num sei de nada de mim quando
piquinininha. Cum cinco ano tava na casa dos ôtro. Levando merenda pros home na
roça, dibuiano mio no paió, cuidano das galinha...tudo em troca do de cumê e de
rôpa usada. Tava uma hora num sítio, outra hora em otro. Assim inté os doze
ano.
Veio o primero home. Eu num sabia de
nada. Foi aí que conheci o fogo que tinha dentro de mim. Era a fazenda de um
home sério, desses de igreja, bravo que nem padre. A muié era iguar. Um vaquero
dele me oiô e fiquei presa. Deu uma tremedeira pro dentro. Ele ficou oiando e
andando pro quintal e eu... fui também... Senti que ele me mandô com os óio,
com o jeito isquisito de me oiá. Fumo inté o pé de maracujá, ele tava cum
medão... eu tava doida... doida varrida... arguma coisa mexia dentro de mim...
aí eu ia sabendo e de repente já sabia que eu ia me discubri, que eu ia sabê
ôtras coisas. Ele apanhou uma frô de maracujá... bem aberta... quis falá, mas
só abriu a boca... Pôs a frô nos meus cabelo e me deitou no chão. Alevantou
minha saia e abriu minhas pernas... passou a mão em mim e eu vi o verde rodá em
riba... nuns pedaço eu via o azul do céu. Aí ele abriu a barguia e eu vi o
passarinho dele. Tava duro... veio pra riba de mim... parecia que o mundo tinha
parado, que o tempo num andava mais... inté eu num respirava mais. Os passo do
patrão botou pedra nas vontade dele. Ficou parado, iscuitando com os óios
arregalado... o passarinho dele foi incoiendo e ele fugiu. Ninguém chegou e eu
fiquei ali deitada que nem calango no sol, gostando daquela quentura gostosa...
eu num entendi tudo... mas fiquei sabendo que aquilo era no secreto, nos esconsos
de tudo, no iscundido dos outros.
Passô
uns dia só e eu fiquei sozinha com otro home. Era um véio que ninguém
ligava pra ele. Eu queria o que eu não sabia. Mas ele devia saber como o otro.
Oiei pra ele e oiei pro paió. Fui andando e oiando... e ele foi indo... foi
indo... eu já fui fazendo o que eu sabia, deitei nas paia de mio, levantei a
saia e abri as perna. O véio ficou respirando forte, fungando bravo que nem
cavalo e foi tirando meu vistido todinho... me beijou, me mordeu e eu sinti uma
tontêra boa que nem vi o que ele fez. Sinti uma dô que me rasgava e parecia que
ele todo tava entrando dentro de mim. E ele ficava mexendo, mexendo e eu vi o
mundo se acabá, a terra toda morrê e me deu uma vontade de gritá e eu gritei.
Ele pôs a boca na minha e me calou. Arguém iscuitou, pruque logo foi a maió
confusão. O patrão me tocô, a muié dele me rogô praga e eu saí pra puêra da
estrada. Num chorei. Sofri poeira e calor. E tudo parece que foi pro mode eu
intendê. Todo mundo achava que era errado, só eu que via que num havia errado
nenhum.
Tava pensando ansim, quando veio um
carro-de-boi gemendo. Eu nem oiei e nem pidi, mas o home falô pra mim ir junto
e repartiu comigo sua merenda. Vi que o mundo também tinha suas bondade, que a
vida mesma era ora boa ora ruim, de misturado e remexido. Apruveitei a hora
boa. Ansim faço inté hoje. O mais é o que acontece. Fui de arraial em vila, de
um lugar a ôtro. Um dia, fiquei doente e me levaram prum hospitá. Um dotô
bonito me deu remédio e me cuidô. Quando fiquei boa, me levô pra casa dele,me
deu ropa boa, pra mode eu trabaiá. Uns dia dispois, eu tava deitada e ele entrô
no meu quarto. Fiquei quieta, fingindo drumi. Ele abriu minha camisa de botão e
foi falando muita coisa que eu nem num ouvia direito. Passou a mão tão macia de
um jeito tão macio, beijou meu peito e eu nem mexi. Fiquei quietinha por fora,
nem tremi... tremi só por de dentro. Por dentro era um monte de arripio e de
tremura. Quando ele deitou em riba de mim eu ria e chorava, mas só lá dentro,
com tudo em brasa. Só quando ele falou "abre a boca, me dá sua língua, me
dá sua língua" foi que eu mixi, obedeci. Ele intão disse "sabia que
você tava acordada". Aí, todo dia nóis fazia a mesma coisa. De dia eu
cuidava da casa dele e quando a noite chegava eu drumia e ele ia na minha cama
e a gente apruveitava muito tempo, fazendo tudo muito gostoso.
Um dia, um moço me pidiu em casamento.
Antenô, moço sacudido, trabaiadô da roça. O doutô quis que eu decidisse, falô
que num era meu pai, mas punia por mim. Também num pudia impidi se eu quisesse.
Eu quis, e fumo morá afastado de lá. Nem duas semanas tinha passado e o doutô
foi me visitá, pra sabê cumo é que tava passando, se eu precisava de arguma
coisa, que isso e aquilo, mas eu logo vi o que tava querendo e ele num resistiu
e acabô me pidindo. Tadinho. Caído no chão, de jueio, é, divera, ajueiado como
se tivesse rezando e chorando que nem minino. Cumé que pode? Cumé que eu pudia
dizê não? Ele me abraçava as perna, me beijava os juêio. Levei ele pro quarto e
pela primeira vez ele ficou quieto e eu fiz tudo o que queria. Ele ria... disse
que num divia ter deixado eu me casá. Que eu valia ôro vivo. Só me alembrei que
eu era casada, quando meu marido bateu na porta. Saí correndo, pensei que o
dotô fugia pelo fundo. Tentei segurá o Antenô, mas ele parece que viu tudo, que
sabia tudo. Entrô que nem louco e foi quebrano tudo inté chegá no quarto.
Matô... matô e fugiu, foi pra jagunçagem. Hoje é o famoso Calango. Bicho
terríve.
Eu saí dali com o vestido que tinha
posto na hora da aflição. Pequei nada não. Fui embora suzinha e Deus. Muito
tempo despois conheci um home danado de bonito. Paulo, até o nome dele me
enchia de alegria. Paulo, Paulo, Paulo! Trabalhadô da estrada de ferro, me
namorô, me gostô e disse que queria casá. Falei que na igreja já num podia
mais. Tava casada e com marido fugido, mas num tinha casado nu tar de civil.
Ele quis e casô cumigo só no cartório. E pra mim era a mesma coisa. Eu tinha
casa de novo, tinha marido e era uma muié casada como as ôtra. Só que o Paulo num
me intendeu. Eu agora sabia que tudo tinha acontecido para eu saber que eu ia
ser tudo o que agora eu era. Eu era mulher, muié. Queria tudo, toda hora. De
manhã era o melhor. Acordava Paulo com carinho e ele reclamava que tinha de
trabaiá, que ficava com as perna bamba. Quando ele vinha de tarde eu nem
deixava ele tomá banho, queria mesmo era aquele
chêro, chêro de home que me ardia e me deixava que nem lôca. Depois eu
dava um banho nele e aí ele cheroso, com aquele chero de limpo eu num güentava
e queria mais, porque também assim era gostoso, era um ôtro gosto, um ôtro
jeito. Ele pedia "deixa eu jantá". Eu falava "adispois".
E despois da janta quando eu cumeçava
ôtra vez, ele me arreliava e se
empombava:"Que é isso, muié? Cê num sussega, a estrada é de ferro,
mas eu num sô!" Tinha vez que ele num reclamava, mas ficava muito parado e
num era a mesma coisa como no tempo de namôro. Nesse tempo, quando a gente se
via, ele também era um fogo só e num esbarrava de me fazê festa, de me
muquiricar. Agora, ficava que nem coitado.
Um dia, acordei e ele tinha sumido. Me abandonô. Foi aí que vim pará na
casa de muié-dama.
Geraldo Chacon
(Do meu livro A VIDA QUE EU VI, publicado em e-book, pela Amazon.)
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
MORADORES DE RUA ou Homeless
A
MORADORA DE RUA
Lendo uma matéria sobre moradores de rua, perdi o
rumo em uma das linhas e viajei para o passado. Uma lembrança forte tomou conta
de mim.
Não vou conseguir lembrar mês e dia, mas a hora, veio-me à mente com
precisão. Eram 6 da manhã. Frio pra caramba. Eu vi uma senhora que se arrumava,
parecia ter acordado naquele instante. Foi numa calçada de uma rua próxima ao
Parque Antártica. No instante em que a olhei, seu olhar também me distinguiu na
massa de veículos que passavam e me sorriu. Ainda tive tempo de corresponder ao
sorriso que era meigo, puro, angelical. Pela Dutra afora, fui me lembrando
daquela gentileza, simpatia!
Uns dez dias depois, domingo pela manhã, um pouco
mais tarde, creio que 7:30, seguia rumo a Dutra. Ao sair da Rebouças, pegando à
esquerda com o propósito de seguir pela av. Pacaembu, lembrei-me daquela
senhorinha e não resisti, peguei a Dr. Arnaldo, dali pequei a Sumaré e fui para
lá com a intenção de parar e conversar com ela. Estaria lá? Me perguntava.
Estava, no mesmo lugar. Parei frente a um bar e
pedi que preparassem um pão com manteiga e um pingado para viagem. O senhor do
bar perguntou se era para muito longe.
– Não senhor, é para aquela senhora que dorme nessa
mesma calçada.
– Ela não toma café e eu não tenho pão.
E preparava-se para jogar o café de volta na
cafeteira, quando lhe pedi que fizesse o pingado que eu mesmo o tomaria. Então
ele me sugeriu levar um quibe para ela. De quibe ela gostava. Ele me disse.
Foi o que
fiz. Quando dela me aproximei e ofereci o salgado, dentro de um saquinho, ela agradeceu
timidamente e mais recatada ainda se justificou:
– Vou guardar para comer depois. Estou de jejum.
(Lembrei-me de minha avó, Dindinha, que jejuava toda primeira sexta-feira do
mês. Dia que, invariavelmente, durante anos, comungava.) Disse-lhe então que
não era sexta-feira, mas domingo, e ela explicou-me:
– Jejuar sempre faz bem pra gente!
– Você é religiosa? De que religião?
– Sou evangélica.
Ofereci café, só para ver se confirmava o que
dissera o homem do bar. Ela gentilmente recusou e agradeceu. Desejei-lhe boa
sorte e segui meu rumo com mil questionamentos a respeito. Minha querida
ex-aluna Nancy perguntou se eu concluiria esse texto e a resposta que lhe dei
ficará como fechamento dessa história:
Nancy, concordo com você sobre o tempo na internet.
Dedique-se mais aos estudos e menos ao mundo virtual. Quanto à moradora de rua,
estou com saudades dela. Reli a crônica porque você tocou no assunto e quer
saber como vou concluir. O mais importante foi o acontecimento e que as pessoas
possam tirar suas próprias conclusões. Por exemplo, pessoas boas, não deixam de
ser assim porque a vida lhes retira os bens materiais. Assim como pessoas ruins,
geralmente, não se tornam boas quando sofrem perdas radicais. Quando puder,
veja o filme "Ensaio sobre a cegueira".
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Carta do chefe Seatle "A terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra".
CARTA DO
CHEFE SEATLE AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS
Este documento é um dos mais belos já
escritos sobre o uso do solo - é uma
carta escrita em 1854, pelo Chefe Seatle ao presidente dos EUA, Franklin
Pierce, quando este propôs comprar as terras de sua tribo.
“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa
idéia nos parece estranha .
Se não
possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a
penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva
que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem
vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão
caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois
ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As
flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são
nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do
corpo do potro e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja
comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe, diz que nos reservará
um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus
filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas
isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água,
mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem
lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar à suas crianças que ela é
sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos
e lembranças da vida do meu povo, o murmúrio das águas é a voz de meus
ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas
canoas e alimentam nossas crianças, se lhe vendermos nossa terra, vocês devem
lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer
irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção
da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um
forasteiro que vem à noite e extrai aquilo de que necessita. A terra não é sua
irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa
para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra
aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os
direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o
céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros
ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um
deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas
cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é
um selvagem e não compreende.
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se
possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um
inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído
parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de
uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem
vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento
encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou
perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas
compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o
mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um
homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos
nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que
o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu
último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e
sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento
açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se
decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais
desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um
milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os
alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o
fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo que sacrificamos
somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem
morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais,
breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de
nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi
enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que
ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra,
acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em
si mesmos.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma
família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não
tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao
tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para
amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos,
apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá
vir a descobrir um dia: nosso deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o
possuem, mas sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco.
A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador.
Os brancos também passarão, talvez mais cedo que todas as outras
tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios
dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados
pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes
deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério
para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os
cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa,
impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por
fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu. É o final da vida e o início da
sobrevivência.”
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