HISTÓRIA
Um libata a
adquiriu por um caco de espelho.
arrastada pelos comboieiros.
Peça muito boa: não
faltava um dente
e era mais
bonita que qualquer inglesa.
No tombadilho o
capitão deflorou-a.
Navio guerreiro?
não; navio tumbeiro.
Depois foi
ferrada com uma ancora nas ancas,
depois foi
possuída pelos marinheiros,
depois passou
pela alfândega,
entrou no amor do
feitor,
apaixonou o Sinhô,
enciumou a Sinhá,
apanhou, apanhou,
apanhou.
Fugiu para o mato.
Capitão do campo
a levou.
Pegou-se com os
orixás:
fez bobó de
inhame
para Sinhô comer,
fez mandinga
para o Sinhó a amar.
A Sinhá mandou
arrebentar-Ihe os dentes:
avança na branca
e me vinga.
Exú escangalha
ela, amofina ela,
sou só
uma mulher perdida
neste mundão.
Neste mundão.
Louvado seja Oxalá.
Para sempre seja
louvado.
Comentário: Poema em versos livres com rimas
ocasionais, linguagem coloquial com termos oriundos da cultura afro. Essa
história mostra que a beleza nem sempre livrava uma negra do seu destino
miserável e sofredor. No início da história o maior valor dessa linda negra são
os dentes, mas o que acontece com eles? A sinhá por ciúme mandou arrebentar
seus dentes. A solução é sua vingança através do feitiço.
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[1]
Presa por meio de canga, como se prende o boi.
[2]
Idioma de origem africana, mas na
verdade o termo designa o africano vendido como escravo na costa nigeriana,
cujo idioma na realidade era o iorubá.
[3]
Cais do Rio de Janeiro onde os negros eram desembarcados e vendidos.
[4]
Bebida refrigerante feita com grãos de milho esmagados.
[5]
Termos utilizados para designar o diabo.
[6]
Termo não dicionarizado, mas o sentido óbvio é de “acaba” com ela.
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