CRÔNICA DE UM DITADO POPULAR
Hoje,
final do mês de novembro de 2015, veio-me de cambulhada, tudo misturado, um
soneto com emenda e uma conversa marota que tive com a Verona, figura muito
singular na minha vida. Não só isso, mas outras coisas, uma por exemplo que nos
remete ao século XV. Calma, vou organizar as informações, mas não vai ser fácil
porque as coisas não vieram arrumadas, mas aos trambolhões.
Quando
o Renascimento aconteceu no século XV, surgiu a forma de poema denominada
soneto, que consistia de uma construção elaborada em versos decassílabos,
distribuídos por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos e
as duas últimas com três versos cada uma. Quando os mestres se puseram a
ensinar a seus discípulos essa nova forma de poema, perceberam que muitos não
alcançavam a concisão necessária e chegavam ao décimo quarto verso sem terminar
a ideia, o conteúdo. Algum mestre, então, teve a generosidade de deixar que
fizessem mais dois versos para ver se conseguiam, passando a denominar esses
dois versos de “emenda”. Claro, suponho eu, que os bons alunos conseguiam, mas
os fracos que não logravam um bom soneto, com apenas mais dois versos não
resolviam sua situação e, provavelmente, se o soneto ficava ruim, a “emenda”
ficava pior que o soneto. Isso gerou um ditado popular: “Ficou pior a emenda do
que o soneto”.
Essa
frase sempre foi usada para indicar uma situação em que você tenta melhorar
algo, qualquer coisa, e o resultado fica pior. Um exemplo disso é aquela
anedota em que a esposa, olhando-se no espelho fala para o marido que está se
achando gorda, velha, cheia de pelancas e ele para a consolar diz, pois é, mas
a sua visão está ótima meu bem.
Tudo
isso e mais o que vou dizer no final, veio-me à mente porque construí agora um
soneto com emenda. Resolvi fazer o soneto porque me lembrei de um que Manuel
Bandeira havia feito e me impus o desafio de também construir outro. E como
Drummond fez um soneto com versos redondilhos menores, decidi fazer o meu com
redondilhos maiores. Ficou assim:
Arrebol de Ponta da Acaíra, foto de Solange. |
ONDE
AGORA MORO
Aqui encontrei abrigo.
Aqui, na Costa do Sol,
encontrei tão bons amigos
e meu mais lindo arrebol.
Por isso é que sempre
falo;
eu quero o melhor para
mim.
De peito aberto declaro:
Aqui será o meu fim.
Bons ventos sempre me
trazem
aquilo que me faz bem:
pureza, oxigênio e
leveza.
Os raios do sol me fazem
mais moreno e também
perceber tanta beleza.
Por isso digo sem medo
Aqui finda meu enredo.
Procurei,
sem muito êxito, registrar o momento que estou vivendo, principalmente pelo
grande número de amigos conseguidos em Arraial do Cabo e em Araruama, cidade
que me deu mais oportunidades e reconhecimento. Aí relendo o texto para
corrigir, veio a figura da Verona, quando trabalhava para mim Em Taboão da
Serra, São Paulo. Certo dia, atendi uma professora ao telefone e procurei
resolver um problema, não me lembro bem, mas creio que ela comprara meu livro e
ainda não recebera pelo correio. Tentando me desculpar, disse algo que não
aliviou a braveza da professora, e pelo contrário aumentou sua indignação. Ao
desligar, deparei com a Verona de vassoura na mão, parada, rindo-se de mim. Sempre
tratei meus subalternos com a mesma dignidade e respeito com que trato qualquer
pessoa e também dou a eles e elas o direito de me tratar da mesma forma. Verona
então disse-me: “Pois é, seu Geraldo, ficou pior a emenda do que o soneto.
Então
eu me lembrei de todas aquelas informações com que iniciei este texto e para
não deixar que ela me zombasse, esnobei:
−
E você por acaso sabe o que é soneto?
−
Não, mas o senhor me entendeu, não é mesmo?
Essa
era a Vera, não deixava nada pela metade. Ainda vou escrever um texto, não sei
se crônica ou conto, contando uma estória em que ela foi enredada por outra
pessoa.
2 comentários:
Olá, amigo Chacon
Muito feliz de ter podido ir ao grande evento cheio de calor humano que foi o lançamento dos seus livros...
Muito sucesso pois sua competência se faz sentir: um artista completo!
Bjs fraternos de gratidão
Obrigado pelo seu apoio.
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